Na linguagem popular, a colunista ainda tenta passar um
pano, ou seja, tirar a culpa da Samarco-Vale ao dizer que a empresa está
"paralisada, com depósitos bloqueados” e que sob essa justificativa "não terá
como pagar funcionários nesta segunda - a não ser que a Justiça suspenda o
bloqueio”.
Não estamos falando de uma empresa de fundo de quintal. A Samarco é a 10ª maior
exportadora de minério do país. Em 2014, faturou R$ 7,6 bilhões, sendo de R$
2,8 bilhões de lucro líquido. Nos últimos 12 meses, encerrados em setembro,
detinha 14,95 milhões de toneladas de minério de ferro na produção da Vale,
totalizando 340 milhões de toneladas no mesmo período.
A bajulação não parou por aí. Segundo a matéria, Vescovi passou duas horas
depondo na delegacia de crimes ambientais, em Belo Horizonte, enquanto a "a
Vale, sócia proprietária da empresa ao lado da BHP-Billington, anunciava a
criação de um fundo voluntário para a recuperação do Rio Doce”.
Fundo voluntário?! A empresa é responsável pela lama tóxica que contaminou
rios, destruiu centenas de casas e vitimou até agora 11 pessoas. Portanto, não
se trata de uma ação "voluntária”, mas uma obrigação.
Plano de emergência que não resolveu a emergência, mas era um plano
Questionado se o rompimento da barragem poderia ter sido evitado, o empresário
diz: "Em primeiro lugar, as causas do acidente ainda não foram levantadas. É
surpreendente que a barragem de Fundão tenha descido de uma só vez - isso foge
aos modelos matemáticos habituais. Temos gente do mundo inteiro aqui estudando
o que aconteceu, mas vamos precisar de tempo para uma conclusão. A investigação
exige uma interação de disciplinas - geotecnia, geologia, mecânica de solo,
mecânica de fluidos, sismologia”.
A resposta não convence nem mesmo a imparcial jornalista: "Mas não há nem uma
hipótese mais provável, ainda?”. Ele responde: ”Não. Isso não faz parte do
processo de investigação. Tem de deixar o pessoal trabalhar livre para levantar
hipóteses, e aprender com isso para evitar que aconteça de novo. Sabendo que as
lições daqui vão valer para o mundo inteiro”.
Apesar de negar saber as causas, o empresário endossa a tese da jornalista de
que o rompimento poderia ter sido causado por conta de um abalo sísmico, como
se tal hipótese não fosse parte da preocupação de qualquer barragem segura no
mundo.
"Sim. Órgãos competentes, como Defesa Civil, Bombeiros, UnB e USP confirmaram.
Informações mais detalhadas devem ser buscadas com eles”, afirmou.
Sobre a preocupação de que haja novos rompimentos, o empresário confirma que as
barragens da mineradora não são seguras e que, agora, estão tentando fazer o
que devia ter sido feito antes do desastre.
"Nossas estruturas em Germano estão sendo monitoradas 24 horas por dia. Estamos
fazendo as melhorias necessárias para ampliar o grau de segurança. Criamos um
plano com a Defesa Civil, responsável por fazer a evacuação da área. A gente
tem trabalhado no reforço de tudo”, afirmou
Apesar disso, o empresário nega haver omissão. "Não, não houve omissão! Havia
sim um Plano de Contingência, aprovado pelos órgãos competentes, e que foi
cumprido integralmente”, disse ele. O fato é que o plano nem chegou a atender
as necessidades mínimas de segurança, já que romperam duas barragens e nem
aviso de sirene aos moradores existia.
Em seguida, Vescovi confessa: "A discussão sobre o funcionamento dele, ou não,
é outra discussão”.
Água contaminada
Quando ao assunto é a contaminação da água, o empresário joga o enfrentamento
do problema que criou para as prefeituras. "O esforço pela água não é só da
Samarco, é das prefeituras também. Uma boa parte disso já foi restabelecida”,
declarou ele.
O prefeito de Baixo Guandu, no Espírito Santo, Neto Barros (PCdoB-ES), em
entrevista ao Portal Vermelho, criticou a tentativa da empresa de tentar surfar
nas ações das prefeituras.
"A Samarco mente. Mandou dois técnicos pra cá para acompanhar as obras, mas
coloca em seu site que está resolvendo o problema de captação de Baixo Guandu e
outros localidades, mas na verdade quem está trabalhando e pagando a conta são
os municípios. Quem está segurando a onda de dejetos é a administração pública”,
rechaçou.
*Portal Vermelho
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