Houve um crescimento de mais de 55% nas despesas de captação
no mercado (em números absolutos, um montante de mais de R$ 3 bilhões), o que
segundo a análise do balanço feita pelo Dieese pode ter influenciado no
resultado negativo.
O resultado antes dos impostos e das participações foi de R$ 1,2 bilhão e o
prejuízo líquido só não foi ainda pior devido a uma injeção de R$ 1 bilhão em
impostos diferidos.
Participação nos resultados
Mesmo com esse resultado já projetado no primeiro semestre, os bancários foram
à luta na Campanha Nacional 2014 e, com a força da greve, arrancaram uma
participação nos resultados de R$ 3 mil para cada funcionário.
No entanto, existe mais de R$ 150 milhões de diferença entre o valor registrado
no balanço - R$ 214 milhões - e o correspondente ao pagamento da conquista dos
bancários, que totaliza apenas R$ 60 milhões.
"Esses números são inexplicáveis. Pra onde e pra quem foi todo esse
montante?", questiona Miguel Pereira, secretário de Organização da
Contraf-CUT e funcionário do HSBC. "Isso significaria mais R$ 25 mil para
cada gerente, a título de PR, e sabemos que isso não ocorreu. Será que foi a
diretoria do banco que ficou com a maior parte desse bolo, mesmo realizando
todo esse prejuízo?", pergunta.
Para Miguel, "esse é um dos grandes problemas do programa de remuneração
variável do banco: a pouquíssima transparência e falta de credibilidade".
Bancarização da Losango gerou empregos
O HSBC aumentou o quadro de funcionários em 578 postos de trabalho em relação a
dezembro de 2013. Esse aumento deve-se à inclusão dos funcionários da empresa
Losango, que se tornaram bancários.
As despesas de pessoal cresceram 21,3%. "A incorporação da Losango foi
apenas um fator para o crescimento da folha de pagamento. O banco não explicou
quais foram as movimentações internas que impactaram tanto a elevação dessas
despesas", aponta Miguel.
O número total de empregados do banco no país em dezembro de 2014 foi de 20.165
trabalhadores.
Já o número de agências do HSBC no Brasil foi reduzido em 11 unidades no ano
passado, totalizando 853 em dezembro.
Operações de crédito
As operações de crédito cresceram 5,7% no ano passado, atingindo um montante de
R$ 66,1 bilhões. As operações com pessoas físicas aumentaram 3,0% em relação a
dezembro de 2013, chegando a R$ 20,4 bilhões. E as operações com pessoas
jurídicas, por sua vez, alcançaram R$ 45,7 bilhões, com elevação de 7,0% em
comparação ao ano anterior.
O índice de inadimplência superior a 90 dias apresentou redução de 0,3 pontos
percentuais, ficando em 3,9% no ano. Com isso, o banco reduziu suas despesas
com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) em 17,3%, atingindo um
total de R$ 3,1 bilhões.
O lucro mundial do HSBC, divulgado no dia 23 de fevereiro, foi de US$ 13,69
bilhões em 2014, resultado 16% inferior ao do ano anterior.
> Clique aqui para saber mais sobre o lucro mundial.
> Veja aqui a síntese da análise do balanço feita pelo
Dieese.
Estratégia questionável e mais escândalos
"Nesses quase 20 anos que o HSBC está no Brasil, o banco sempre apresentou
muitas dificuldades em ajustar e definir sua política de mercado, com problemas
de atuação no varejo pela concorrência com os bancos nacionais. Com mudanças
constantes, os seus resultados nunca foram expressivos e sempre questionados
pelo movimento sindical, ora por conta das regras contábeis utilizadas (ora
brasileiras, ora inglesas), ora por conta dos altíssimos provisionamentos. Mas
eram até então positivos", avalia Miguel.
Nos últimos três anos, coincidentemente com uma série de denúncias
internacionais que o ligavam a operações irregulares em diversos países do
mundo, principalmente nos EUA, Inglaterra, México e Argentina, com a imposição
de multas bilionárias por esses países, o banco iniciou um processo de
reestruturação mundial, com a demissão de milhares de trabalhadores e saída de
diversos países onde atuava. "E a partir dessas iniciativas os resultados
no Brasil só vêm piorando. Não sabemos oficialmente se parte desses prejuízos
globais estão sendo repassados a todas as filiais mundiais e por isso os
resultados vêm caindo no Brasil", acrescenta Miguel.
Para o dirigente sindical, é difícil entender porque no Brasil, "paraíso
dos banqueiros e com a maior taxa de juros do planeta", um dos maiores
bancos do mundo apresentou em 2014 prejuízos de quase R$ 1,5 bilhão e, caso não
fosse a reversão dos créditos tributários IR, seria na ordem de R$ 1 bilhão.
Miguel teme que a situação do banco possa se agravar com seu envolvimento em mais
um escândalo de grandes proporções, como as denúncias do Swissleaks, como ficou
conhecido o caso de lavagem de dinheiro por sua filial na Suíça, com mais de 8
mil clientes brasileiros na lista. As denúncias estão sendo investigadas pela
Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério da Justiça e serão apuradas
também por uma CPI já aberta no Senado.
"Isso só atinge negativamente a marca do HSBC. Juntando-se as dificuldades
estruturais que o banco já apresentava no Brasil, como a falta de funcionários nas
agências, assédio moral para cumprimento de metas abusivas, às dificuldades
concorrenciais e de mercado, os trabalhadores agora ainda têm que enfrentar a
desconfiança da maioria de clientes em operar com o banco no Brasil, dado o
tamanho das denúncias", aponta o diretor da Contraf-CUT.
"Esperamos que as autoridades monetárias no Brasil, particularmente o BC,
dessa vez ajudem nos processos de apuração das irregularidades, e que a mídia
nacional, tão zelosa em manter a moral e os bons costumes, não boicote mais uma
vez essas apurações por estarem envolvidos grandes nomes da política, do mundo
empresarial e financeiro, donos de veículos de comunicação etc. Lavagem de
dinheiro, evasão fiscal e caixa 2 são crimes igualmente para todos",
enfatiza Miguel.
"Para o movimento sindical bancário, o desafio é defender e garantir o
emprego dos mais de 21mil funcionários do HSBC e, ao mesmo tempo atuar e apoiar
para que toda a verdade sobre as irregularidades sejam apuradas e os
verdadeiros responsáveis sejam punidos e que de novo os funcionários
brasileiros não paguem a conta ou sirvam de bode expiatório para atos
reprováveis praticados pela alta cúpula do banco", conclui o dirigente da
Contraf-CUT. Â *Contraf/CUT com Dieese
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