A extinção de postos de trabalho nos bancos contrasta com os
números da economia brasileira, que gerou 588.671 novos empregos formais nos
primeiros seis meses do ano.
Os dados são da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada na sexta-feira
(18) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT), que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos números
do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE).
> Clique aqui para acessar as tabelas e gráficos da pesquisa.
De acordo com o levantamento, além do corte de vagas, a rotatividade seguiu
elevada no período. Os bancos brasileiros contrataram 16.713 funcionários e
desligaram 20.459.
No total, 20 estados apresentaram saldos negativos de emprego no primeiro
semestre. As maiores reduções ocorreram em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro e Minas Gerais, com 1.612, 608, 436 e 395 cortes, respectivamente. O
estado com maior saldo positivo foi o Pará, com geração de 142 novas vagas.
"Apesar dos lucros fabulosos, os bancos brasileiros, principalmente os
privados, continuam fechando postos de trabalho em 2014, a exemplo dos últimos
meses de 2013, o que é injustificável. Somente no ano passado os seis maiores
bancos (BB, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) lucraram R$ 56,7
bilhões", destaca Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
Para ele, "os bancos que estão cortando postos de trabalho prejudicam os
bancários, pioram o atendimento dos clientes e da população e não contribuem
para o crescimento econômico e social do país com emprego e distribuição de
renda".
Rotatividade achata salários dos bancários
A pesquisa mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos nos primeiros
seis meses do ano foi de R$ 3.283,30 contra o salário médio de R$ 5.208,94 dos
desligados. Assim, os trabalhadores que entraram nos bancos receberam valor
médio equivalente a 63% da remuneração dos que saíram.
"Essa diferença comprova que os bancos privados continuam praticando a
rotatividade, um instrumento perverso utilizado para reduzir a massa salarial
da categoria e aumentar ainda mais os lucros", salienta o presidente da
Contraf-CUT. "Nos últimos dez anos, os bancários conquistaram aumentos
reais consecutivos, mas esses ganhos foram corroídos pela rotatividade, freando
o crescimento da renda da categoria", ressalta.
Para Cordeiro, "os números da nova pesquisa reforçam a luta dos bancários
contra as demissões e pelo fim da rotatividade, por mais contratações e contra
os projetos de terceirização, como forma de proteger e ampliar o emprego da
categoria e da classe trabalhadora". Ele adianta que "o emprego será
uma das principais demandas da Campanha Nacional dos Bancários 2014, que está
sendo construída em todo o país".
Desigualdade entre homens e mulheres
A pesquisa mostra também que as mulheres, ainda que representem metade da
categoria, permanecem sendo discriminadas pelos bancos na sua remuneração,
ganhando menos do que os homens quando são contratadas. Essa desigualdade
continua ao longo da carreira, pois a remuneração das mulheres é bem inferior à
dos homens no momento em que são desligadas dos seus postos de trabalho.
Enquanto a média dos salários dos homens na admissão foi de R$ 3.753,98 no
primeiro semestre, a remuneração das mulheres ficou em R$ 2.805,40, valor que
representa 74,7% da remuneração de contratação dos homens.
Já a média dos salários dos homens no desligamento foi de R$ 5.981,89 no
período, enquanto a remuneração das mulheres foi de R$ 4.385,35. Isso significa
que o salário médio das mulheres no desligamento equivale a 73,3% da
remuneração dos homens.
"Essa vergonhosa discriminação é totalmente inaceitável e fortalece ainda
mais a luta da categoria por igualdade de oportunidades na contratação, na
remuneração e na ascensão profissional", reitera Cordeiro.
Maior concentração de renda nos bancos
O presidente da Contraf-CUT salienta ainda que "a pesquisa reforça ainda a
mobilização dos bancários por distribuição de renda". Enquanto no Brasil,
os 10% mais ricos no país, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010,
têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres, no sistema
financeiro a concentração de renda é ainda maior.
No Itaú, cada membro do Conselho de Administração recebeu, em média, R$ 15, 5
milhões em 2013, o que representa 318,5 vezes o que ganhou o bancário do piso
salarial. No Santander, cada diretor embolsou, em média, R$ 7,7 milhões no
mesmo período, o que significa 158,2 vezes o salário do caixa. E no Bradesco,
que pagou, em média, R$ 13 milhões no ano para cada diretor, a diferença para o
salário do caixa foi de 270 vezes.
Desta forma, para ganhar a remuneração mensal de um desses executivos, o caixa
do Itaú tem que trabalhar 26,5 anos, o caixa do Santander 13 anos e o do
Bradesco 22,5 anos.
"Essa longa distância, que separa os ganhos dos altos executivos e os
salários dos bancários, agride a justiça social e a dignidade dos
trabalhadores, bem como contribui para a vergonhosa posição do Brasil entre os
10 países mais desiguais do mundo, o que precisa mudar", conclui Cordeiro. Â *Contraf/CUT e Dieese
|