Alguns dados mostram o impacto de tal índice. De acordo com estudo do Center for Economic and Policy Research (CEPR), think tank
dos Estados Unidos, o pagamento de juros da dívida pública, que tem boa
parte do seu estoque vinculado à Selic, correspondeu a 7,6% do Produto
Interno Bruto brasileiro em 2016, o quarto maior entre 183 países.
Alardeadas pela equipe econômica do governo Temer como um
sinal de que a economia se recupera e deixa o auge da crise para trás, a
queda na Selic está diretamente ligada à redução no índice de inflação
que, por sua vez, cai devido à queda no poder de compra da população,
uma das consequências da crise.
Para a economista Regina Camargo, mantidas
as atuais diretrizes de política econômica, com taxa de juros real que
classifica como "absurda", e que atende apenas aos interesses dos
grandes bancos e do mercado financeiro, não há perspectiva de saída para
a crise.Â
Segundo Regina, da subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), esses grupos econômicos aproveitam a elevada dívida pública, financiada em condições muito ruins, sempre no curto prazo, para lucrarem
milhões em aplicações financeiras remuneradas com elevadas taxas de
retorno, o que transforma o Brasil num verdadeiro "paraíso para o
rentismo".
"Enquanto isso perdurar, enquanto se tiver uma parte da dívida
pública atrelada à Selic, e isso for motivos de ganhos para um restrito
setor rentista, que é quem hoje manda no país, que dita o timing e o conteúdo das reformas da Previdência e trabalhista, dificilmente vamos ter taxas civilizadas."
Ela afirma que essa visão "ultraliberal" da equipe equipe econômica
que reflete o interesse desses grupos financeiros acaba por acarretar
graves distorções na economia que impedem a retomada do crescimento.
"Dificilmente a economia vai voltar a crescer. Quem é que vai tomar
crédito? Até para pegar um empréstimo pequeno, a gente faz contas,
imagina um empresário que precisa de volumes maiores de recursos."
O cenário, de acordo com Regina Camargo, pode se
agravar mais com as mudanças anunciadas pelo governo, que pretende
substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) por uma nova fórmula
que deve encarecer o crédito para a produção. A alteração consta na
Medida Provisória (MP) 777, que tramita no Congresso Nacional.
A economista destaca que a queda na inflação comemorada pelo
governo, que ensejou a redução na taxa Selic, se deu ao custo da
extinção de milhões de empregos. Com as taxas recordes de desemprego, a
massa salarial se reduz, retraindo o poder de compra da população. Sem
poder de compra, os preços caem.Â
"Essa é a fórmula que o governo encontrou de baixar a inflação: aumento dramático do desemprego e um
choque recessivo brutal", afirmou Regina, para quem ainda não há
qualquer sinal de que o pior da crise tenha ficado para trás. "Venceu-se o dragão da inflação a um custo altíssimo para o conjunto da sociedade e o sistema produtivo."
Por fim, ela explica que a atual política que privilegia os ganhos
com a especulação financeira produz a concentração de renda. "Enquanto o
rentismo dominar o comando da política econômica, dificilmente vamos
ter crescimento com distribuição de renda, que melhore as condições de
vida dos trabalhadores. Vamos ter, sim, aumento da concentração."
*RBA
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