Mas é importante lembrar que o fim das metas, por si só, não
solucionaria o problema das pressões, assédio moral/violência organizacional e
outros fatores de risco determinantes para os agravos da saúde mental dos
empregados. A questão não se restringe às metas, pois elas são apenas um
instrumento de controle da produção e, na lógica do mercado, não só no Brasil
como no mundo todo, o controle da produção é "prerrogativa” do empregador.
Mesmo que a política de metas fosse finalizada, nada impediria que fossem
adotados outros métodos similares ou até mais prejudiciais à saúde dos
trabalhadores.
O caminho adotado pelas entidades sindicais tem sido o de
buscar incluir na Convenção Coletiva Nacional uma cláusula que imponha limites
ao estabelecimento de metas e cobrança de resultados. É necessário respeitar as
diferenças entre as pessoas e os limites físico e mental dos trabalhadores;
considerar a heterogeneidade dos diversos públicos, pois as necessidades e as
expectativas variam de acordo com o local/região onde estão as agências; e
levar em conta que o trabalho é executado em equipe e, portanto, a
individualização das metas somente gera conflitos e disputas entre colegas com
habilidades e responsabilidades diferentes, provocando a degradação dos
ambientes de trabalho.
Além disso, empregados como caixas e avaliadores de penhor,
que exercem funções de caráter técnico que exigem conhecimento específico e um
nível maior de concentração para evitar a incidência de erros, devem ser
desobrigados de vendas de produtos e outras atividades estranhas aos seus
cargos.
A definição das metas também não pode ser feita de forma
unilateral pela empresa, mas com a participação dos bancários, os encarregados
de cumpri-las, e que, portanto, sabem dos obstáculos e dos limites, objetivos e
subjetivos, para a realização a contento das tarefas.
Deve haver redução proporcional, quando houver redução, por
qualquer motivo, definitiva ou temporária, do tamanho e das características da
equipe; o controle do cumprimento não pode gerar pressões e constrangimentos
aos empregados, individual ou coletivamente. Não deve haver estabelecimento de
rankings e vinculação a prêmios e remuneração variável, nem tampouco cobranças
por meio de mensagens de e-mail, redes sociais ligações telefônicas,
principalmente fora da jornada de trabalho.
Pequenos, mas importantes progressos já foram obtidos na
mesa de negociação com a Fenaban, como as proibições de divulgação de rankings
e de envio de mensagens em equipamentos particulares dos trabalhadores. Porém,
avançar nessas conquistas ainda é um grande desafio que exige, sobretudo, a
conscientização e o envolvimento dos maiores interessados, os bancários.
A resistência dos bancos em fazer concessões sobre o tema se
explica pelo fato de representar interferência direta na gestão, com reflexos
na estrutura geral das instituições, gerando possivelmente a necessidade de
ampliação do quadro de pessoal, entre outras medidas. Mas não podemos admitir
que a organização do trabalho seja ditada de forma unilateral pela
administração maior das empresas, sem levar em conta os prejuízos à saúde
física e mental dos trabalhadores.
Consultas realizadas anualmente pela Contraf/CUT,
antecedendo a data base (1º de setembro), apontam a pressão pelo cumprimento de
metas e o assédio moral como os maiores problemas enfrentados pelos bancários
em seu dia a dia. O grau de importância desses fenômenos indicado pelos
participantes da consulta é praticamente o mesmo dado ao reajuste salarial e a
outras questões de caráter econômico. Essa prioridade, entretanto, não se
reflete na mobilização dos bancários nos momentos de reivindicação.
O papel reservado aos empregados da Caixa na luta pela
alteração dessa lógica é fundamental. É preciso refletir sobre isso se
quisermos de fato obter ambientes de trabalho com menor grau de insalubridade e
penosidade. A Fenae e as Apcef, como sempre, estão ao lado das entidades
sindicais para dar suporte à luta por melhores condições de trabalho dos
bancários e, em especial, dos empregados da Caixa.
*Fenae |