Em entrevista exclusiva para a Agência Pública, a
presidenta afastada Dilma Rousseff refaz sua trajetória, explica por que se
considera vítima de um golpe, fala o que pensa das forças políticas do país e
do que esse "golpe parlamentar”, nas palavras dela, representa para a
democracia da América Latina. Responde também a perguntas sobre questões
polêmicas como aborto, hidrelétrica de Belo Monte e recentes acontecimentos da
Lava Jato.
|
A entrevista para aAgênciaPúblicaé a
primeira de Dilma Rousseff concedida a um grupo de jornalistas mulheres: Andrea
Dip, Marina Amaral, Natalia Viana e Vera Durão. "Acho que o PSDB cometeu
um gravíssimo equívoco político. Perdeu a cara porque endireitou. Estimulou,
organizou e propôs um movimento que era baseado em algumas questões
inadmissíveis. Como é que se mistura com um (movimento) que defende o golpe
militar?", afirma.
Ao responder pergunta sobre o presidencialismo de
coalizão, Dilma diz que se voltar ao cargo ao superar o impeachment não
retoma as bases do governo anterior: "Vou te falar, eu não recomponho governo
nos termos anteriores em hipótese alguma.”
A presidenta também comenta sobre a crise com o PMDB,
partido que compunha sua chapa eleitoral e sua base parlamentar de governo,
depois de classificar sua eleição em 2014 como "ultraconflituada”. "Depois
disso, apoiam a ida para a presidência da Câmara do senhor Eduardo Cunha, que
tem uma pauta eminentemente de direita. E que faz, talvez, o processo mais
grave no Brasil, que foi tornar o centro hegemonizado pela direita, rompendo
com uma tradição centro-democrática que vem desde a redemocratização, com
Ulysses Guimarães, a Constituinte, em que um dos protagonistas importantes foi
o centro democrático no Brasil. O PMDB, o velho MDB, né?”, destaca a
presidenta.
Dilma critica ainda o governo de Michel Temer e a relação
com Cunha ao comentar a guinada do PMDB que o levou à oposição: "Ele dá essa
guinada quando o Cunha assume a hegemonia dele. Porque ele teve a hegemonia. E
essa hegemonia está expressa no governo do Michel Temer. Ele é Cunha. O Jucá
não mente quando diz que Michel é Cunha. Um dos grandes problemas desse governo
é esconder o Cunha. Porque o Cunha não é uma pessoa lateral deles. Ele é o
líder deles. Líder em todos os sentidos”. Confira a íntegra da entrevista. *RBA
|