Nicolelis recebeu a equipe do GGN na sede do Projeto
Andar de Novo, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Durante a
entrevista, que durou um pouco mais de 50 minutos, ele falou do projeto
educacional que incentiva a produção científica de crianças na periferia
de Natal, tocado pelo Instituto Internacional de Neurociências - Edmond
e Lily Safra (IINN), avaliou o desenvolvimento no Brasil, elogiando o
programa Ciências Sem Fronteiras e seu impacto na auto estima de
estudantes brasileiros que encontrou em outros países, além da
necessidade de uma política pública de descentralização da ciência e
tecnologia no país, hoje concentrada na região Sudeste.
Num segundo momento, Nicolelis contou o início da sua carreira, nos
Estados Unidos, abordou a dificuldade de desenvolver ciência no Brasil, e
o importante papel do Estado na promoção de conhecimento, lembrando que
o governo norte-americano investe cerca de 5% do Produto Interno Bruto
anual em ciência.
O neurocientista avaliou, ainda, a forma como a mídia nacional
desvaloriza os avanços brasileiros, com destaque para a pífia cobertura
do funcionamento do exoesqueleto em um paciente há dez anos paraplégico,
durante a abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. "O governo
japonês nos chamou para repetir a nossa demonstração nas Olimpíadas de
Tóquio, já criaram um comitê para ter uma demonstração de robótica nos
mesmos termos que o nosso, com todo apoio da sociedade japonesa",
rebateu. O pesquisador enxerga com preocupação o desmonte recente da indústria
nacional, decorrente da crise política, criticando fortemente a
desvalorização da Petrobras, que deveria ter seus ativos protegidos, e
não vendidos, como está ocorrendo por conta dos desdobramentos da
Operação Lava Jato.
Por fim, Nicolelis entrou na sua área de conhecimento, sobre o
potencial intuitivo do cérebro humano, condição que jamais um computador
será capaz de emular, porém ressaltou a preocupação do fenômeno de
sincronização de pensamentos, por conta do uso cada vez mais constante
da internet e redes sociais.
Esse novo modelo de comunicação, rápido o suficiente para acompanhar o
funcionamento cerebral, estaria trazendo prejuízos à capacidade de
reflexão dos indivíduos, lembrando que, na obra "Understanding Media",
dos anos 1960, o teórico da comunicação, Marshall Mcluhan, já alertava
para isso.
"Ele previu que os grupamentos sociais iam começar a fragmentar a
sociedade, porque os grupos de interesse iam começar a se auto
referenciar no momento em que houvesse um meio de mídia capaz de ser
rápido o suficiente para sincronizar as pessoas na ordem da magnitude de
funcionamento do cérebro."
O cientista indicou, também, que o imperialismo norte-americano
continua atuante, agora em movimentos cibernéticos, com alcance sobre
vidas e mentes sem precedentes na história da humanidade. *GGN |