"Quanto vale o conhecimento que nós
produzimos?- perguntou o economista Thomas Fiori, da Fundação de
Economia e Estatística (FEE), que acabou sendo aplaudido de pé por
centenas de servidores ao questionar, emocionado, a lógica do pacote de
Sartori que penaliza as principais instituições de pesquisa e
planejamento do Estado. "O fato de estarmos trocando recursos de
pesquisa científica por vagas em presídios diz muito sobre a situação
atual da sociedade gaúcha”, observou Fiori. Se a FEE for extinta,
acrescentou, ocorrerá o desmantelamento de um trabalho estatístico que
trata da história econômica do Rio Grande do Sul desde o século XIX.
Na mesma linha, a jornalista Cristina Charão, servidora da TVE,
questionou os critérios utilizados pelo governo Sartori para propor a
extinção de fundações que são responsáveis pela produção de conhecimento
e cultura no Estado:
"Existe um consenso na Declaração Universal de Direitos Humanos que a
liberdade de expressão é um direito fundamental. As emissoras públicas
nasceram por isso, para não deixar toda a comunicação submetida ao
sistema privado. A TVE e a FM Cultura fazem parte desse sistema público
de garantias de um direito fundamental. A extinção da Fundação Piratini,
da TVE e da FM Cultura, são agressões a esses direitos fundamentais”,
disse a jornalista Cristina Charão, servidora da TVE. "Não estamos na
mira do governo Sartori porque há uma crise financeira, mas sim porque o
que eles querem implementar no Rio Grande do Sul e no país é um modelo
sem ciência e sem cultura, sem cérebro e sem coração. O pacote do
Sartori transforma o Rio Grande do Sul em um estado zumbi”, afirmou a
jornalista.
Mara Feltes, diretora do Semapi, contextualizou os projetos do
governo Sartori lembrando aqueles que foram lançados no governo de
Antonio Britto. "Estamos vivendo o mesmo pesadelo, só que agora de modo
mais grave. Este seminário é também um encontro de esclarecimento para a
sociedade sobre o que está acontecendo no Estado˜., assinalou. A
presidenta do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul,
Helenir Aguiar Schurer, destacou que o golpe aplicado em nível nacional
não foi contra um partido A ou B, mas sim contra os direitos dos
trabalhadores. "O problema não é financeiro propriamente, mas sim de
concepção de Estado”.
Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio
Grande do Sul (CUT-RS), anunciou que a entidade está mobilizando
trabalhadores do setor privado debatendo o que está acontecendo no
Estado e no país. Nespolo criticou as propostas de extinção das
fundações encaminhadas pelo governador Sartori à Assembleia e as
conseqüências das mesmas para o Estado. "Os contratos de prestação de
serviços (para substituir o trabalho que é realizado pelas fundações) já
devem estar prontos na Fiergs, na Federasul, na Farsul”, ironizou o
dirigente da CUT que convocou todos os servidores a participarem do ato
unificado que será realizado no próximo dia 13 no Largo Glenio Peres.
Claudir Nespolo considerou outras possibilidades de mobilização também.
"Considerem com muito carinho a possibilidade de ocupações e de uma
greve geral do serviço público contra esse pacote do Sartori”.
O encontro também contou com a participação de ex-dirigentes das
fundações, como o engenheiro nuclear Odilon Marcuzzo do Canto, ex-reitor
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e ex-presidente da
Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), durante o governo Olívio
Dutra. "Na minha vida, já passei por diversos tipos de governo. O que
não se pode admitir é que um governo eleito encaminhe questões de Estado
sem fazer nenhum diálogo com a sociedade. Há, sim, a necessidade de
promover alterações na estrutura do Estado, mas, além de coragem, é
preciso ter discernimento para fazer isso. Hoje, em todo o mundo, se
sabe que a base do desenvolvimento é o conhecimento. Fazer tabula rasa
de todas essas fundações não tem nenhuma inteligência nem
racionalidade”, afirmou.
"A época das passarinhadas já passou”
Ex-presidente do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia), João Jornada destacou que qualquer país ou Estado
precisa ter uma infraestrutura de apoio nas áreas de planejamento,
pesquisa e conhecimento. "Há uma parte intangível do trabalho de
fundações como a Cientec que também fazem parte do patrimônio público.
Representando o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Rui Oppermann, o professor Marco Cepik expressou o apoio da
instituição à luta das fundações e também criticou os projetos de
extinção do governo Sartori. "A luta de vocês repercute em toda a
sociedade gaúcha”, afirmou Cepik, lembrando que a Escola de Governo, que
funciona junto à Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos
(FDRH), formou, só em 2015, 2.700 alunos, com um orçamento equivalente a
2% do que teve em 2014.
O professor Ludwig Buckup, Doutor em Zoologia, criticou duramente a
proposta de extinção da Fundação Zoobotânica, lembrando o valor
científico da instituição e do trabalho que a mesma realiza. "Na
verdade, a Fundação Zoobotânica incomoda já não é de hoje. Quantas vezes
a Secretaria do Meio Ambiente, no governo Yeda, resistiu aos estudos e
pareceres da Fundação sobre a silvicultura. Hoje, a Sema é muito
competente em emitir licenças para o plantio de eucalipto e para grandes
empreendimentos. Alguém tem que ir ao Palácio e explicar ao governador
Sartori que a época das passarinhadas já passou”.
O seminário teve apoio das associações de funcionários de Cientec,
Metroplan, FDRH, FEE e FZB, além da CUT. Ao final do encontro, foi
aprovado um documento em defesa das fundações que será encaminhado à
Assembleia Legislativa.
*Marco Weissheimer - Sul 21
Fotos: Guilherme Santos