Esses industriais golpistas decidiram apostar tudo na
derrubada da Presidenta, não importam as consequências. A solução da crise,
conforme havia antecipado Veja em nome de todos eles e de uma parte substancial
das classes dominantes, é o Vice-presidente Temer. Mergulhando na conspiração
até o pescoço, Temer promete rever a iniciativa de Dilma de contingenciar 30%
dos recursos do Sesi/Senai (ou dos 4 S) e promover uma reforma trabalhista
regressiva contra direitos consagrados na Constituição, que estará a cargo de
Moreira Franco.
O esquema Skaf/Temer só tem um problema. Como canalizar R$
500 milhões para os bolsos de parlamentares favoráveis ao impeachment sem o
risco de, agora ou no futuro, o dinheiro ser rastreado pela Justiça? Sim,
porque a Justiça não será entregue permanentemente nas mãos de promotores e
juízes partidários dos golpistas. Em algum momento aparecerão em seu meio
homens honrados que vão buscar na vida pública e privada de parlamentares os
indícios de enriquecimento ilícito. Como diz Luís Nassif, acabou a era do
dinheiro escondido.
Alguns, obviamente, correrão o risco. Ademais, a decisão do
impeachment se aproxima como velocidade anti-natural. O mais importante nessa
questão é que os órgãos controladores da probidade administrativa, a partir do
Ministério da Justiça, tomem uma providência para ver de onde sai o dinheiro
golpista da Fiesp. Só um idiota acreditaria que sai dos bolsos dos empresários
ou mesmo de suas empresas. Eles são generosos, sim. Mas são generosos com
dinheiro alheio. Nesse caso, com o dinheiro dos 4S.
Eu conheço isso muito bem. Fui assessor da presidência da
CNI, nos anos 80, e já então se podia perceber a pajelança com dinheiro público
que era a gestão do Sesi e do Senai de muitos dirigentes de federações,
notadamente de São Paulo, que por seu poder econômico gozava de ampla
autonomia. Isso só deve estar piorado. Gente como Skaf não passa de abutres em
torno do dinheiro público quando se trata de dinheiro que controlam, a despeito
da retórica anti-imposto e anti-setor público que professam com a maior cara
dee pau.
Insista-se que recursos do Sistema S são, inequivocamente,
públicos. Correspondem a recolhimentos obrigatórios sobre a folha salarial das
empresas destinados ao ensino profissional e a atividades sociais dos trabalhadores.
Federações industriais, como Fiesp e Firjan, para simular seu assalto a esse
caixa público, criaram Centros industriais vinculados às federações, por onde
flui o dinheiro supostamente livre, mediante manobras contábeis. É muito fácil
desmascarar isso. Qualquer órgão controlador público pode fazer uma devassa na
circulação desses recursos e desmascarar seu uso indevido.
Defendo o direito da Fiesp propor o impeachment. Mas que
seja com o dinheiro dos empresários e não dos trabalhadores. Sesi e Senai, quando
foram criados há mais de seis décadas, certamente eram melhor geridas por
empresários porque, nessa época, trabalhadores não tinham grande experiência de
gestão. Agora a situação é outra. Sesi e Senai devem ser entregues à gestão dos
trabalhadores, inclusive como forma de evitar o uso político dos dinheiro pelas
entidades empresariais, suscetíveis de maracutaias. Com isso o grande caixa da
Fiesp, para comprar o impeachment, pode virar o caixão de Skaf!
P.S. Encontrei-me ontem no aeroporto de Brasília com o
deputado Wadyh Damous, ex-presidente da OAB do Rio, com a deputada Jandira
Feghali e com o senador Lindeberg Farias. Os três deram-me a boa notícia de que
estará sendo movida na próxima semana ação popular contra a Fiesp e seu
presidente, tendo em vista desvio de dinheiro público na campanha do
impeachment, aqui denunciada.
*Jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ.
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