Ele foi enfático ao discorrer sobre as origens e
responsabilidades pela atual crise econômica mundial. "A totalidade das
chamadas commodities– grãos, petróleo, gás e minérios – está nas
mãos de 16tradingsglobais”, disse, ao referir-se à queda nos preços
desse segmento nos últimos 12 meses. "Quando se pensa que os principais bens do
planeta estão com 16 corporações, vemos que há um controle da economia mundial
sem que se tenha um governo mundial.”
O professor citou estudo do Instituto Federal Suíço de
Pesquisa Tecnológica, segundo o qual 737 empresas controlam 80% do sistema
corporativo mundial. "Isso é gente que se conhece, nem precisa se procurar para
conspirar. Trata-se de um verdadeiro oligopólio planetário, e 65% desse sistema
corporativo é formado por bancos.”
Para Ladislau, esse controle e financeirização da economia
resultou em uma dinâmica que hoje multiplica um sistema de quebradeira nos mais
variados países: "O que hoje está acontecendo na Grécia, antes aconteceu no
sudeste asiático e, antes disso, no México, e também já aconteceu na
Argentina”.
Com essa introdução sobre economia mundial, o professor abordou os desafios à
consolidação do estado social democrático na América Latina, tema em debate na
tarde de terça-feira 25, até sexta-feira 28.Também participou da
mesa o ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim.
"Contribuição” dos bancos
Ladislau Dowbor destacou o papel dos bancos na crise
brasileira, a partir de dados do Banco Central sobre o endividamento das
famílias, que em 2005 correspondia a 19,3% da renda e em abril último pulou
para 46,5% da renda. "Isso trava a economia”,afirmou, lembrando os exorbitantes
juros bancários no país. "Um crediário no Brasil tem 100% de juros, na Europa é
13%. O rotativo do cartão de crédito alcança em média 300% ao ano. O cheque
especial no Brasil chega a 200% ao ano, enquanto que na Espanha é 0% até seis
meses. Hoje temos mais de R$ 20 bilhões empatados em dívidas de gente que está
pagando cheque especial. Ou seja, crediários, cartões de crédito e juros
bancários para pessoa física travam a demanda, pois o comprador paga em dobro
pelo produto, assim endivida-se muito comprando pouco.”
Ele também criticou os altos juros para pessoas jurídicas. "Para completar esse
quadro, a alta da Selic provoca a transferência de centenas de bilhões dos
nossos impostos para os bancos, o que trava a capacidade do Estado de investir
em infraestrutura e expandir políticas sociais”, disse, referindo-se aos
títulos da dívida pública, indexados pela taxa básica, a Selic. "Assim
completa-se o quadro dessa bandidagem absolutamente fenomenal que está drenando
recursos do nosso país.”
Interesses na crise
O economista lembrou avanços sociais do país nos últimos
anos, com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) crescendo 31% entre 1980
(0,549) e 2011 (0,718), desempenho que foi puxado pelo aumento na expectativa
de vida (de 62,5 anos para 73,5 anos), pela melhora na média de anos de
escolaridade (4,6 anos a mais) e pelo crescimento da renda nacional bruta per
capita (quase 40% entre 1980 e 2011). "E vamos dizer que o país está
quebrado?”, questionou.
"Os resultados são gigantescos, muito sólidos, essa crise não é uma crise
econômica, é uma crise levada por interesses políticos. Temos uma aliança do
sistema financeiro, da mídia e de parte do Judiciário. E não vamos nos esquecer
do Congresso que é eleito por corporações, por isso temos a bancada ruralista,
a dos bancos, a das empreiteiras, das montadoras... Fica-se à procura da
bancada do cidadão.” E completou. "Tivemos isso em 54 (ano em que Getúlio
Vargas se suicidou). Tivemos também em 64 (ditadura) e estamos tendo isso de
novo hoje. Não passa pela goela das nossas oligarquias que haja uma democracia,
e isso não só nos ameaça aqui, como nos ameaça no continente latino-americano e
no mundo.” *RBA
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