Somente de janeiro a junho deste ano, de acordo com dados do Caged, o setor
bancário cortou 2.795 empregos. Esse número aumenta para 22 mil quando
analisado o período de janeiro de 2012 a junho de 2015. No início dos anos
1990, o Brasil tinha 732 mil bancários. Em 2013, esse número caiu para 511 mil,
segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do
Trabalho e Emprego. No momento, 21 mil bancários do HSBC, adquirido pelo
Bradesco, ainda correm risco de demissão.
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"A negociação hoje tratou de um tema essencial para os trabalhadores, mas
o sistema financeiro não tem interesse em negociar a garantia no emprego. Os
bancos insistem em dizer que demitem pouco, mas se utilizam dos correspondentes
bancários, que retiram o emprego da categoria e o transfere para outros lugares
mais precarizados e com menores salários. A rotatividade e terceirização servem
para eles aumentarem cada vez mais seus lucros", disse Roberto von der
Osten, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) e um dos coordenadores do Comando Nacional.
"No momento em que o emprego é uma preocupação geral, inclusive com o
governo anunciando linhas de créditos mais baratas para empresas que não
demitam, os bancos, com lucro crescendo 20% somente no semestre, não se
comprometem em garantir o emprego dos trabalhadores", disse Juvandia
Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários
de São Paulo, Osasco e Região, uma das coordenadoras do Comando Nacional.
"Cobramos mais responsabilidade social do setor, para contribuir com a
geração de empregos do País e eles podem fazer isso contratando mais e
oferecendo taxas de juros mais baixas para o setor produtivo."
A Fenaban negou haver demissões no momento e seus dirigentes também se
mostraram contrários à Convenção 158 da OIT (Organização Internacional do
Trabalho), que disciplina o término de contrato de trabalho pelo empregador e
determina a necessidade de justificativas para a dispensa. "Isso nunca deu
certo", alegou Magnus Ribas Apostólico, diretor de Relações Trabalhistas
da entidade patronal.
Roberto von der Osten argumentou que o trabalho é um direito social fundamental
do homem e tem por finalidade melhorar as condições de vida das pessoas, buscar
a igualdade social e atribuir dignidade à pessoa humana. Lembrou ainda que o
artigo 6° da Constituição elenca como direitos sociais o direito ao trabalho,
entre outros, como a educação, saúde, moradia, lazer, segurança, previdência
social, proteção à maternidade e infância e assistência aos desamparados.  O diretor da Fetrafi-RS e representante no Comando Nacional, Juberlei Baes Bacelo destaca que os bancos estão usando a rotatividade como artifício para redução de custos. "Bancários mais antigos estão sendo demitidos sem motivo e são substituídos por novos trabalhadores, que são contratados por salários inferiores. Além disso, o setor também tem utilizado as novas tecnologias para reduzir o quadro de pessoal e precarizar o atendimento. Em vez de proporcionar melhores condições de trabalho através da redução da jornada, os bancos ampliam o assédio sobre os trabalhadores e obrigam os clientes a usar meios eletrônicos para efetuar transações, que normalmente seriam feitas por bancários. Estes fatores demonstram a total falta de responsabilidade das instituições com o país", critica o dirigente sindical.
CONTESTAÇÃO
Para Magnus Apostólico, superintendente de Relações do Trabalho da Fenaban, o
sistema bancário teria um quadro de trabalhadores estável, se comparado ao de
anos atrás. O dirigente patronal acentuou que não haveria motivos para preocupação com
demissões. As fusões entre bancos também não estariam causando demissões, na
avaliação do diretor da Fenaban.
As respostas dos bancos repetem postura dos anos anteriores. Eles negam a
redução de postos de trabalho, dizem que mantém o nível de emprego, amenizam os
problemas da terceirização e a rotatividade, contestam o descumprimento da
jornada de trabalho e ainda insistem no descumprimento do acordo coletivo dos
bancários, que determina seis horas ao dia.
"Eles ainda deixaram bem claro na negociação que são a favor do projeto de
terceirização que tramita no Senado. Eles são a favor e nós somos radicalmente
contra", lembrou o presidente da Contraf-CUT.
A entrega da pauta de reivindicações dos bancários ocorreu no dia 11 de agosto.
A segunda rodada de negociações acontecerá nos dias 2 e 3 de setembro, com os
temas saúde e condições de trabalho.
Lucro - O lucro líquido dos cinco maiores bancos atuantes no Brasil (Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander), nos
três primeiros meses do ano, atingiu a marca de R$ 16,3 bilhões, com
crescimento de 21,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Os principais
itens do balanço desses bancos comprovam o sólido desempenho do setor. As
receitas com prestação de serviços e tarifas bancarias cresceram 12% atingindo
o valor de R$ 27 bilhões. Neste primeiro semestre, os balanços já divulgados
(Itaú, Bradesco, Santander e BB) somaram R$ 29,8 bilhões, crescimento de 20% em
relação a mesmo período do ano passado. Para os empregos, no entanto, curva
descendente: 5.004 postos a menos em 2014 e 2.795 no primeiro semestre de 2015.
Reivindicações - Entre os itens principais da pauta dos bancários estão o
índice de 16% (reposição da inflação mais aumento real de 5,7%, acima da
inflação), o piso salarial no valor de R$ R$ 3.299,66 e a PLR (três salários
base mais parcela adicional fixa de mais R$ 7.246,82). E reivindicam ainda
melhores condições de trabalho, com o fim das metas individuais e abusivas.
Dados da Categoria - Os bancários são uma das poucas categorias no país
que possui Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com validade nacional. Os
direitos conquistados têm legitimidade em todo o país. São mais de 500 mil
bancários no Brasil, sendo 142 mil na base do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, Osasco e Região, o maior do país. Nos últimos onze anos, a categoria
conseguiu aumento real acumulado entre 2004 e 2014 de 20,07%: sendo 1,50% em
2009; 3,08% em 2010; 1,50% em 2011, 2% em 2012, 1,82% em 2013 e 2,02% em 2014.*Contraf/CUT com edição da Fetrafi-RS
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