Cálculo efetuado pelas técnicas do Dieese mostra que, nesse
ritmo de correção das distorções, demorará 88 anos para que as mulheres passem
a receber salários iguais aos homens nos bancos. E na região Sudeste, onde a
diferença salarial de gênero é ainda maior, demoraria 234 anos para as mulheres
atingirem a mesma remuneração dos homens.
Os dados não foram disponibilizados pela Fenaban, sob a alegação de que, mesmo
passados quatro meses da realização do II Censo, são parciais, incompletos e
ainda precisam ser concluídos. Do total de 458.922 trabalhadores dos 18 bancos
que participaram do II Censo, responderam ao questionário 187.411 bancários, o
que significa 41%, dos quais 51,7% de homens e 48,3% de mulheres.
Para Deise Recoaro, secretária de Mulheres da Contraf-CUT, essa pequena amostra
já permite detectar que não houve alterações significativas nas discriminações
de gênero. "Além disso, fica claro que os bancos continuam a discriminar
as mulheres e nada de efetivo tem sido feito para mudar este quadro. O que é
mais grave é que a Fenaban se nega a reconhecer essa desigualdade e ainda usa
subterfúgios para justificar o que vem acontecendo", critica.
"Os bancos ainda tem a cara de pau de menosprezar esses dados, tentam
amenizar a situação, alegando que as mulheres ganham menos que os homens porque
ficam menos tempo no serviço e que estariam começando a ingressar nos bancos e
fazer carreira, o que não é verdade. Sabemos que, mesmo as mulheres com mais
tempo de banco, não têm oportunidades de ascensão profissional e, quando passam
a ganhar mais, são as primeiras a serem demitidas", aponta Deise.
Invisibilidade das mulheres negras
Outra grande preocupação é a discriminação da mulher negra, "quase
invisível nos bancos privados", segundo a diretora da Contraf-CUT. Os
bancos estranhamente não apresentaram esse dado. "Isso leva a crer que,
assim como a remuneração, a discriminação por raça continua sendo uma dura
realidade no sistema financeiro", ressalta.
"No censo de 2008, havia somente 8% de mulheres negras em toda a
categoria, em nível nacional. Acreditamos que essa situação é praticamente a
mesma em 2014. Apesar de todos os dados sobre a população brasileira apontarem
para melhor escolaridade das mulheres negras, maior qualificação e capacidade
de inserção no mercado de trabalho, os bancos privados continuam a barrá-las na
contratação, não dando sequer a oportunidade de trabalharem no sistema
financeiro", destaca.
Entretanto, os representantes da Fenaban disseram que não observam nos
resultados do II Censo a confirmação de há discriminação nos bancos. Deise
espera que ter conhecimento de todos os dados da pesquisa, feita em parceria
com a Contraf-CUT, a fim de fazer os cruzamentos e análises possíveis para
diagnosticar a realidade da categoria e, a partir disso, construir um plano de
ação para acabar com todas as discriminações existentes.
Igualdade de oportunidades
"Já cobramos na mesa de negociação da Campanha Nacional dos Bancários 2014
que a Fenaban apresente medidas efetivas para transformar logo essa realidade,
pois é inadmissível que em pleno século 21 as mulheres sejam tratadas nos
bancos como trabalhadoras de segunda categoria", salienta Deise. "Não
abrimos mão de igualdade de oportunidades na contratação, na ascensão e na
remuneração", defende.
*Contraf/CUT
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