Como cangaceiros, esses assaltantes
bloqueiam qualquer ação policial e tomam para si, mesmo que por alguns minutos,
as pequenas cidades do Interior ao colocarem a população na linha de tiro. Oito
ataques com essas características aconteceram no Estado entre 1º de janeiro e o
dia 22 de julho. No mesmo período do ano passado, não foram registradas
investidas assim. Ao levar em conta o total de ataques com explosivos, com ou
sem reféns, houve aumento de 16 para 29 em um ano, elevação de 81%. Somente
neste mês, ao menos oito investidas nestes moldes foram registradas até o
último sábado. Nesse levantamento não estão sendo contabilizados os
arrombamentos sem uso de explosivos, como o realizado em Novo Hamburgo nesta
quarta-feira (26). Para a
Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações
Criminais (Deic) há, hoje, três quadrilhas especializadas neste tipo de ação.
Uma delas é liderada pelo procurado número 1 no Rio Grande do Sul: Ivo Francisco dos Santos Assis,
41 anos. Mentor da sua organização, conhecido como Ganso Baio, está foragido desde
2012, quando foi condenado a mais de 28 anos de prisão por roubo a estabelecimento
bancário de Carlos Barbosa naquele mesmo ano. Ele é suspeito de comandar, entre
outros, o ataque a dois bancos em Progresso no dia 25 de
fevereiro e três em Encruzilhada do Sul.
Também é apontado como responsável por arquitetar as ações, conseguir armamento
e recursos para a quadrilha.
— Esses grupos têm ligação com facções do Vale
do Sinos, Região Metropolitana e Vale do Rio Pardo. São elas que facilitam a
aquisição e até fornecem veículos furtados e roubados, além de armamentos, em
geral vindos de outros países. Além disso, reúnem criminosos das mais variadas
localidades — explica o delegado João Paulo de Abreu, que atua no Deic. Munição até
para derrubar avião
No arsenal de guerra, constam fuzis, metralhadoras,
explosivos e até munição capaz de derrubar avião, empregada exclusivamente em
ataques a carros-fortes. Experientes, essas quadrilhas utilizam moradores nas
cidades-alvo como comparsas para conseguirem informações privilegiadas. O
grupo, então, se abastece desses dados, como números de policiais e
alternativas de fuga, para montar a rota de saída por estradas vicinais e para
definir o melhor momento de agir.
— Cidades são atacadas mais de uma vez por haver
alguém da quadrilha com informações. Dificilmente atacam municípios que não
conhecem ou deslocam alguém de fora para analisar o terreno, justamente para
não levantar suspeita. É alguém dali que passa as informações — disse o
delegado Joel Wagner. Grupos que
agiam à luz do dia foram desarticulados
Em 17 de maio, a Operação Tríade, para combater roubos a banco realizados
em horário de expediente com uso de escudo humano, desarticulou
pelo menos três organizações criminosas responsáveis por diversos ataques em
2016 e 2017. Os alvos foram núcleos criminosos liderados por Alexandre Longhi
da Rosa, o Fazenda, Adair da Silva Chaves, o Daio, e Luiz Carlos de Oliveira, o
Corcorã. Ao todo, 34 pessoas foram presas na ação. Três, que não foram
encontradas, são suspeitas de agirem menos de um mês depois, em Putinga. Este
foi o último ataque nos moldes das quadrilhas desarticuladas na operação. Neste
tipo de ataque houve redução de 33 casos em 2016, para 20 neste ano.
— Agora, estamos colhendo elementos para
desarticular, quadrilhas que usam explosivos — ressaltou o diretor de
Investigações, delegado Sander Cajal. Orientação
para PMs não reagirem
Diante da supremacia de força dos criminosos que
chegam às cidades do Interior em maior número do que os PMs em serviço, a
Brigada Militar adotou estratégia de não reagir aos ataques. A intenção é resguardar a
integridade física dos policiais militares, mas, principalmente dos reféns. Os
brigadianos são orientados a buscar reforço para que a repressão ocorra após o
início da fuga. Inclusive, helicópteros podem ser solicitados. O ex-secretário
nacional de segurança pública José Vicente da Silva Filho e o especialista em
segurança estratégica Gustavo Caleffi concordam com a dificuldade em prevenir
ataques.
— Não
compensa retirar policiais das áreas urbanas para colocar no Interior sem saber
quando as quadrilhas irão agir — argumentou Filho.
Caleffi ressalta que a escalada dessas ações se
dá em razão da impunidade.
— Com a falência da segurança pública, os
bandidos agem cada vez mais. O que temos de fazer é combater a criminalidade:
se combater o ataque a banco, haverá migração para outros delitos. O roubo de
carros vai aumentar, por exemplo. — Estamos fazendo a repressão. Tão logo
acontecido o fato, temos, principalmente no Interior, planos de barreiras para
reagir rapidamente buscando a captura destes criminosos — disse o
subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Mario Ikeda. *ZH |