A edição comemorativa do evento, que acontece sempre na
terça-feira de Carnaval por ocasião do aniversário de morte do indígena Sepé
Tiaraju, resgatou a luta dos agricultores do assentamento por transformação
social, sendo norteada pelo tema "Romaria da Terra: 40 anos de luta e memória
das conquistas” e pelo lema "Terra de Deus, terra de irmãos”.
A acolhida aos romeiros começou por volta das 7h30 no
Instituto Educar, uma escola de ensino médio, técnico e superior construída há
12 anos pelas famílias assentadas na Annoni, seguida de caminhada até a sede da
comunidade Nossa Senhora Aparecida.
Durante o trajeto, de cerca de 2 quilômetros, foram
carregadas 40 tochas em celebração aos 40 anos da Romaria da Terra e uma cruz
de mais de 3 metros de altura com escoras, representando as dificuldades
enfrentadas pelos agricultores e a solidariedade que eles receberam da igreja,
universidades, artistas, partidos políticos e sindicatos à época dos
acampamentos na Encruzilhada Natalino e na fazenda Annoni.
A cruz levava tiras de tecido nas cores branco e vermelho,
em memória às crianças e adultos que morreram nos dois acampamentos, vítimas da
falta de assistência médica por parte dos governos.
Também foi carregado durante o trajeto um sino, instrumento
utilizado pelas famílias na ocupação da Annoni como sinal da alerta para
problemas, notícias importantes ou chamamento para celebrações.
A caminhada ainda lembrou, por meio de cartazes, seis
mártires que tombaram em lutas a favor das causas populares: Sepé Tiaraju,
Joceli Corrêa, Elton Brum da Silva, Lari Grosseli, Roseli Nunes e Vitalvino
Mori. Os três últimos foram assassinados numa manifestação de agricultores em
Sarandi, em 1987, dois anos depois de ocorrer a ocupação da fazenda Annoni.
Todas estas simbologias acompanharam a caminhada em cinco
paradas, que resgataram a história da Romaria da Terra e a luta das mais de 400
famílias que hoje vivem nas comunidades do assentamento. Uma tratou das
conquistas que os assentados obtiveram nestes últimos anos, entre elas o
fortalecimento do trabalho coletivo através das cooperativas e agroindústrias, e
da educação por meio da construção de escolas e do método de ensino
diferenciado do MST. A romaria ainda destacou o papel fundamental que as
mulheres tiveram no desmanche do latifúndio de mais de 9 mil hectares.
Para o padre Arnildo Fritzen, que desde a ocupação sempre
esteve ao lado das famílias Sem Terra, a grande lição que fica à sociedade da
luta pela Annoni é de que o povo organizado se torna educador. "A luta pela
terra nos mostra que o poder popular existe e que é possível transformar um
latifúndio em terra produtiva e de boas oportunidades para muitas pessoas”,
disse.
O coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile foi um dos
fundadores do Movimento e ajudou na organização das famílias nas ocupações das
fazendas Macali, Brilhante e Encruzilhada Natalino. Na 40ª romaria, ele
criticou as medidas de retiradas de direitos adotadas pelo governo Temer e
falou dos desafios da classe trabalhadora na atual conjuntura
política."Em tempos de crise, temos que fazer trabalho de base para uma
formação política que leve as pessoas a refletir sobre os problemas que estamos
enfrentando”, apontou.
Após chegarem ao Assentamento Nossa Senhora Aparecida, os
romeiros participaram de uma celebração eucarística, coordenada pela
Arquidiocese de Passo Fundo, e de tribuna popular. No local, também foi
realizada uma feira com produtos da reforma agrária. *Imprensa/TST e Sul21 Fotos: MST
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