"O governo não sabe a luta que está sendo
organizada para barrar essa reforma da Previdência. Todas as centrais e os
sindicatos do Brasil inteiro estão se unindo (em torno da pauta). Eles (o
governo) estão conseguindo unir todo mundo, porque essa reforma atinge
trabalhadores do setor público e privado, do setor urbano e rural, ativos,
aposentados e pensionistas. Mexe com todos”, diz. "Até agora as reformas foram
fatiadas. Nunca conseguimos fazer uma mobilização completa por falta da
consciência de que o que mexe com um, mexe com todos. Mas dessa vez o próprio
governo fez o favor de mexer com todos.”
Para o
economista Amir Khair, secretário de Finanças da gestão de Luiza
Erundina na prefeitura de São Paulo (1989-1992), o governo Temer também erra ao
calcular que suas reformas e a política de arrocho da economia passarão
incólumes e que a política de ajuste passará incólume. "Eles estão tentando
enfiar (as reformas) goela abaixo e o principal objetivo é a reforma da
Previdência.”
Na opinião de Khair, é possível
que o governo e sua base no Congresso consigam atingir o objetivo e aprovar a
reforma da Previdência. "Porque estão de costas para a sociedade e jogando o
peso todo como se o desgaste de agora não afetasse 2018. Acham que 2018 está
distante e até lá a economia começa a crescer. E portanto continuaria um
governo do PSDB, ou do PMDB e PSDB juntos, numa situação tranquila. Mas não é o
que vai acontecer”, diz Khair. "Eles estão pavimentando um governo que não será
um governo na sequência (do projeto) deles. Não sei quem vai ser. A história
toda está muito nebulosa. Mas eles politicamente não serão bem sucedidos.”
Para o economista, a recessão é
muito maior do que os governistas imaginavam e os estados estão em situação
"deplorável”. O problema de estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
acontece não tanto pelo aumento de despesas, embora esse fator também conte,
mas muito mais pela perda de arrecadação. "Não é como está sendo ventilado pela
mídia, que o ajuste é a saída, que tem de ter disciplina fiscal. Quando você
corta despesas destinadas à área social, você corta automaticamente receitas
nas empresas e no setor público. Não existe isso de cortar despesa e não ter
reflexo.”
Juros
Tudo passa pelos juros. Para
Maria Lucia Fattorelli, é preciso analisar a conjuntura "de forma global”, e
sob uma perspectiva de tempo ampla. "O ataque aos trabalhadores na reforma na
Previdência, o privilegio do setor financeiro com os juros abusivos e outros
mecanismos, como o R$ 1,1 trilhão nas operações compromissadas remunerando
diariamente os bancos, o swap cambial do Banco Central, a privatização da
Petrobras. Tudo isso está interligado.”
Na opinião da auditora, a crise é
provocada por erros da politica monetária que não vêm de hoje. "No mundo
inteiro o Estado é a locomotiva da economia. Quando o Estado faz investimento,
encoraja o setor privado.” Sob essa ótica, a política que o BC vem adotando é
equivocada. Por exemplo, em 2005, com Henrique Meirelles à frente, lembra Maria
Lucia, a política do BC era acumular reservas às custas de emissão de titulo da
dívida pagando "o maior juro de mundo, para enxugar dólar, numa época em que o
dólar estava em queda em relação às principais economias, e disso resultou que
em 2009 o prejuízo do BC com essa brincadeira era de R$ 147,7 bilhões, e
continuando a pagar juros sobre isso.”
"Meirelles e Ilan Goldfajn
(presidente do Banco Central) são banqueiros. Nunca um time de banqueiros foi
tão forte como agora. Banqueiro não gosta de cortar juros. Estão falando que
vão cortar, mas estou pagando pra ver”, diz Amir Khair. "Uma economia não
funciona com 157% de juros de crediário como a nossa. Um país emergente
trabalha com 10% de juros no crediário anual. Aqui é 157%.”
Violência
Nesse contexto de perda de
direitos, expansão do desemprego e recessão, o aumento da violência é uma
decorrência natural, como mostram a crise no Espírito Santo e a "falência” do
Rio de Janeiro, onde houve confrontos entre manifestantes e polícia na semana
passada. "A violência está aumentando, claro, porque as pessoas estão
desesperadas e revoltadas. Os pilares que sustentam o modelo econômico e essa
política têm de mudar”, afirma a auditora Os pilares que sustentam o modelo no
Brasil, que precisam deixar de ser parâmetros, segundo ela, são a política
monetária "suicida”, o modelo tributário regressivo e o sistema da dívida, "com
pagamento de juros abusivos sobre uma dívida que nunca foi auditada e levando a
metade do orçamento federal todo ano, sangrando também os orçamentos estaduais
e municipais”.
Na opinião de Maria Lucia, o
governo vai ter muitas dificuldades, se a reforma da Previdência passar.
"Vai ser uma revolução nesse país, porque a insatisfação chegou num limite
muito elevado. Ainda tem a reforma trabalhista, que arrebenta com a formalidade
e com os direitos conquistados na época de Getúlio Vargas."
Khair lembra que a principal
notícia desta segunda-feira (13) foram os dados segundo os quais o comércio
varejista registrou no ano passado o fechamento de 108 mil lojas no todo o
país, pior resultado da série histórica desde 2005. "A perda de arrecadação
causada pela recessão atingiu o governo federal e estaduais, e vamos assistir
também nos municipais. Aí, sim, a parte social vai ficar pior. Os prefeitos que
entraram agora (em 2017) vão ser os próximos ‘infelizes’,e vão pegar uma
recessão pesada. Fizeram promessas de campanha enormes e não vão poder entregar
nem metade do que pensavam”, prevê o economista. *RBA
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