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Sociedade precisa estar atenta para cortina de fumaça em torno do Badesul, diz ex-presidente
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Bancos | 27/09/2016 | 16:09:28
Sociedade precisa estar atenta para cortina de fumaça em torno do Badesul, diz ex-presidente
Confira entrevista veiculada pelo Sul21 nesta terça-feira
 
 

Em entrevista ao Sul21, Marcelo Lopes fala sobre os casos de inadimplência das empresas Iesa e Wind Power, analisa o impacto desse problema sobre a saúde financeira do banco e adverte para um possível uso político do caso por parte de setores contrários à existência de bancos públicos como agentes fomentadores de desenvolvimento.


"Todas as operações de crédito na nossa gestão passaram por todas as instâncias técnicas do banco e todas elas tinham as garantias necessárias para serem contratadas. O que aconteceu na nossa economia, a partir do segundo semestre de 2014 pra cá, foi algo que nenhum analista econômico ou financeiro poderia prever. O banco passa por uma dificuldade, mas tem todas as condições de superá-las e seguir sendo um instrumento fundamental para o Rio Grande do Sul voltar a crescer. A comunidade gaúcha, que inclusive é dona da empresa, tem que ter atenção para que não se crie uma cortina de fumaça que faça com que deixemos de ter uma empresa extremamente importante para o desenvolvimento do Estado”, defende Lopes.

Sul21: Qual a dimensão dos problemas enfrentados hoje pelo Badesul, que foram apresentados pelo jornal Zero Hora como se fossem um grande escândalo, envolvendo uma suposta gestão temerária do banco durante o governo Tarso Genro?

Marcelo Lopes: O estopim de toda essa crise, aparentemente, é o descredenciamento do banco pelo BNDES. Achei muito estranho que tenha ocorrido isso porque o rating do Badesul junto a Austin (empresa classificadora de risco de crédito) é A- e o do BRDE é A. O Badesul tem um colchão de liquidez em grande parte fruto do processo de capitalização do banco durante o governo Tarso Genro, que passou de 520 para 700 milhões de reais de patrimônio líquido. Esse aporte que o governo fez ao banco para dar sustento às suas operações fez com que o Badesul tenha hoje 600 milhões de reais aplicados em títulos do Tesouro.

Há outro indicador importante sobre a saúde financeira do banco, que é o índice de Basileia, definido pelo Banco Central e que determina que as instituições financeiras tenham um mínimo de 11% de volume de capital próprio em relação aos seus empréstimos. Pois bem, o mínimo que o Bacen exige é 11% e o Badesul tem um índice de Basileia superior a 13%. Esse foi um indicador gerencial que definimos ainda no nosso período de gestão e que se mantém até hoje. Além disso, não existe nenhum inadimplemento técnico ou financeiro do Badesul com o BNDES. Inclusive, a presidenta do banco, Susana Kakuta, vem reiterando isso.

Sul21: Quais foram as razões apontadas pelo BNDES para o descredenciamento?

Marcelo Lopes: O governo do Estado, juntamente com a diretoria do banco, emitiu uma nota apontando um conjunto de itens que teriam motivado a decisão. Entre eles, o aumento da inadimplência e a própria situação do controlador que é o governo do Estado. No entanto, os dados sobre a situação do banco não levam a uma conclusão tão drástica como essa tomada pelo BNDES. Poderia até se ter reduzido o rating do banco ou estabelecer um volume de desembolso menor, que o banco poderia aceitar.

O Badesul, nos últimos quatro anos, se transformou na maior agência de fomento do Brasil. Somos maiores que a Investe São Paulo. O Badesul tem metade dos ativos de todas as agências de fomento do Brasil. E há um contrato firmado entre o Badesul e o BNDES regulando essa relação. No mínimo deveria ter ocorrido uma comunicação formal da diretoria do BNDES ao Badesul, o que, pelas informações que tenho, não aconteceu. Estranho o que ocorreu, tanto pela forma como se deu, como pelos indicadores do banco.

Sul21: E quanto ao problema com as empresas inadimplentes. O que ocorreu?

Marcelo Lopes: No início do governo Tarso Genro nós definimos uma política industrial para o Rio Grande do Sul, algo novo na história das políticas públicas de desenvolvimento aqui no Estado. Houve uma política pública bem formulada que priorizou uma série de setores estratégicos para atuação e que definiu alguns instrumentos como a criação da AGDI (Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento) e o fortalecimento do Badesul sob a liderança de Mauro Knijnik, nosso secretário de Desenvolvimento e presidente do conselho do banco, que trouxe toda a experiência de quem foi secretário da Fazenda e presidente do BRDE.

Para dar sustentação ao crescimento das nossas operações, recebemos em torno de R$ 300 milhões de capitalização do governo neste período. Além disso, parte dos recursos que foram captados pelo governo junto ao BNDES também foi destinada à capitalização da instituição. Também havia algumas reservas de lucros que, tradicionalmente, eram utilizadas pela Secretaria da Fazenda e que passaram a ser destinadas para a capitalização do banco. Com isso, o patrimônio líquido passou de R$ 520 milhões para mais de R$ 700 milhões neste período. Isso nos deu lastro para promovermos o crescimento da carteira. Quando assumimos, a carteira de crédito do Badesul era de aproximadamente R$ 1,5 bilhões. Nós chegamos a R$ 4 bilhões de reais neste período. Mais do que dobramos essa carteira, portanto, em quatro anos.

Tudo isso foi feito com a equipe profissional do Badesul. Todos os profissionais que atuam no banco são servidores de carreira que conhecem operações de financiamento de longo prazo. Nós financiamos em torno de mil projetos por ano. Em quatro anos, foram cerca de quatro mil projetos. Foram mais de R$ 1,6 bilhões destinados a agropecuária. Fomos um parceiro forte do programa Mais Água, Mais Renda que dobrou a área irrigada no Rio Grande do Sul e a produtividade das nossas lavouras em quatro anos. Além disso, apoiamos projetos em setores estratégicos nas diferentes regiões do Rio Grande do Sul, como estes dois que têm sido pauta maior de discussão agora, o da Iesa Óleo e Gás e o da Wind Power.

O projeto da Iesa Óleo e Gás vinha no sentido de estruturar uma política nova do governo gaúcho para a criação do polo naval do Jacuí. Já tínhamos o polo naval de Rio Grande praticamente consolidado e com dificuldade de área para novas empresas se instalarem lá. O governo, através da AGDI e da Secretaria de Desenvolvimento, propôs aos municípios da região a extensão do polo naval para o Jacuí. A Iesa foi a primeira empresa que veio para nuclear o projeto, para produzir módulos e plataformas aqui. A expectativa que se tinha naquele momento era que pelo menos mais três empresas se somariam ao projeto do polo naval do Jacuí.

O projeto da Iesa que nos foi apresentado era de R$ 80 milhões. O Badesul emprestou R$ 40 milhões para a empresa, tendo como garantia a área onde seria construído o empreendimento, mais as garantias evolutivas, o que é tradicional nos projetos de longo prazo. A Iesa, naquele momento, firmou no Palácio Piratini um contrato para a fabricação de módulos no valor de 700 milhões de dólares e que poderia chegar a 900 milhões. A empresa iniciou a operação, gerando 1.600 empregos, e tinha indicadores muito positivos naquela época. Tinha aumentado 46% o faturamento nos últimos dois, três anos e capacidade técnica para produzir os módulos aqui. Não havia razão para a agência de fomento do Rio Grande do Sul não financiar esse projeto num setor estratégico como o de óleo e gás.

Na sequência, financiamos outro projeto no polo de Charqueadas, que foi o da Metasa, tradicional empresa de Marau que criou uma nova unidade para fornecer parte das estruturas metálicas que a Iesa ia utilizar na construção dos módulos. Esse projeto teve um montante de financiamento semelhante ao da Iesa e está lá operando até hoje. O caso da Wind Power é semelhante a estes que acabei de citar. É uma subsidiária da empresa multinacional argentina Impsa, que tem mais de cem anos de história e veio ao Brasil como o segundo maior investimento argentino aqui no país. Essa empresa foi apresentada para nós através da Eletrosul. Todos os parques eólicos aqui do sul, em Santa Vitória do Palmar, Santana do Livramento e Chuí, desenvolvidos pela Eletrosul, tiveram contratos firmados com a empresa.

Fazia sentido fazer essa fábrica aqui porque eram investimentos expressivos com um volume grande de equipamentos. A Wind Power instalou inicialmente uma planta em Pernambuco, financiada pelo BNDES. Portanto, a métrica de avaliação que foi aceita por nós aqui também o foi pelo BNDES, que financiou essa planta de Pernambuco. Grande parte do custo desses projetos é de natureza logística. Praticamente cada anel da torre de um aerogerador, cada corpo do aerogerador ou a pá do mesmo necessita de um caminhão para ser transportado. De Pernambuco para cá, esses equipamentos teriam que vir de navio e, quando chegassem aqui, ainda teriam uma etapa de transporte rodoviário, em um processo bastante dispendioso. Então, fazia todo o sentido para a empresa colocar essa planta aqui no Rio Grande do Sul para atender os parques eólicos da Eletrosul e outros que fossem sendo instalados no Estado.

Houve um apoio muito forte do Estado para que essa indústria viesse para cá. Hoje, quando andamos pelo Rio Grande do Sul, vemos como cresceu a quantidade de aerogeradores instalados. Além de darmos suporte para a instalação desses parques de geração de energia eólica, estávamos apoiando a instalação de um cluster para a produção aqui no Rio Grande do Sul dos equipamentos utilizados nestas plantas.

Sul21: O que deu errado com esses projetos?

Marcelo Lopes: No caso da Iesa, ela acabou atingida por toda essa crise envolvendo a Petrobras que, no momento em que avaliamos a operação, ainda não havia acontecido. Os indicadores eram excelentes. Não tínhamos motivo para não apostar no projeto. O projeto da Wind Power também apresentava números excelentes. A empresa vinha com um faturamento crescente e chegou a ter 12% do mercado de aerogeradores brasileiro. Não havia nada que desabonasse esse investimento. O que a empresa nos reportou quando começou a entrar em crise foi um desentendimento com a Eletrobras em um dos parques eólicos que ela tinha em Santa Catarina. A Eletrobras, unilateralmente, deixou de pagar a energia que a empresa estava gerando no parque, o que provocou um desequilíbrio no fluxo de caixa. Depois, a Eletrobras perdeu judicialmente e a empresa recebeu os atrasados, mas não conseguiu recompor o seu fluxo de caixa e deixou de cumprir seus contratos, inclusive aqueles que tinham sido colocados como garantia para o Badesul, o que é algo usual nesta indústria. Trabalha-se com os recebíveis da empresa como garantia para um determinado projeto.

Esses são os dois projetos que têm gerado maior polêmica. É importante dizer que eles foram completamente provisionados durante a nossa gestão. Quando a nossa gestão terminou, em dezembro de 2014, as duas operações estavam provisionadas e tivemos ainda um resultado positivo de R$ 1 milhão. Em 2015 e 2016, conforme as manifestações que tenho ouvido da presidente Kakuta, tivemos um conjunto de empresas financiadas pelo Badesul que entraram em recuperação judicial dentro de um processo de crise da economia brasileira. O que aconteceu na nossa economia, a partir do segundo semestre de 2014 pra cá, foi algo que nenhum analista econômico ou financeiro poderia prever. Ninguém avaliava que entraríamos em uma crise política e econômica tão profunda como a que entramos. Em 2015, cabe lembrar, o PIB brasileiro caiu 3,8%. Hoje, no primeiro semestre de 2016, temos um aumento de 100% do número de recuperações judiciais no Brasil, desemprego na casa dos 10,5% e uma retração no consumo.

"É preciso trazer essa questão para o patamar real do problema. Há um problema, mas ele não tem essa dimensão que está se tentando produzir”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Esses fatores, obviamente, impactaram as empresas. Mas todas as empresas que foram elencadas para receber aportes do Badesul tinham perspectivas positivas na época. Todos esses financiamentos seguiram os ritos técnicos de contratação, começando pela avaliação de uma equipe de analistas de crédito, passando pelo superintendente da área onde a operação estava locada, pelo comitê de crédito, comitê de diretoria e quando era o caso, dependendo do porte da operação, pelo conselho de administração da empresa. Todas as operações neste período passaram por todas as instâncias técnicas do banco e todas elas tinham as garantias necessárias para serem contratadas.

Sul21: Em que medida a inadimplência da Iesa e da Wind Power afeta a saúde financeira do Badesul?

Marcelo Lopes: Como eu disse, o volume de crédito das duas somadas chega a R$ 90 milhões (50 milhões na Wind Power e 40 milhões na Iesa), mas esse valor já havia sido completamente provisionado em 2014. Então, ele não resultou impacto no balanço do banco de 2015 e 2016, sendo completamente lançado em provisão na nossa gestão ainda.

Sul21: Na tua avaliação então, a dimensão que vem sendo dada ao problema em recentes matérias na imprensa seria maior do que é na realidade?

Marcelo Lopes: Acho que tivemos um conjunto de matérias sóbrias, a partir do momento que se discutiu o episódio do descredenciamento do Badesul pelo BNDES que, repito, considero exagerado, pois o banco não tem indicadores tão ruins para merecer essa atitude por parte do BNDES, como a presidente Susana Kakuta vem afirmando, aliás, em suas entrevistas. Esse tema gerou matérias sóbrias até a publicação desta última matéria da Zero Hora que apresenta todo outro cenário que não se sustenta. O dano da matéria pode ser maior que o dos problemas enfrentados pelo banco. A comunidade gaúcha, que inclusive é dona da empresa, tem que ter atenção para que não se crie uma cortina de fumaça que faça com que deixemos de ter uma empresa extremamente importante para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

É preciso trazer essa questão para o patamar real do problema. Há um problema, mas ele não tem essa dimensão que se tentou produzir com essa matéria. A comunidade precisa ficar unida em torno da empresa para que ela seja preservada e reforçada como foi no nosso período. Ela tem um quadro extremamente qualificado, está capitalizada, sabe fazer operações de longo prazo, que são fundamentais para o desenvolvimento e precisa ser preservada para se somar ao BRDE e ao Banrisul no financiamento do desenvolvimento do Estado. O Estado do Rio Grande do Sul, que tem cada vez menos instrumentos para promover o seu desenvolvimento, não pode prescindir do Badesul.

Sul21: Pode haver aí uma estratégia velada de alguns setores para usar essa decisão do BNDES como um pretexto para privatizar ou extinguir o banco?

Marcelo Lopes: Eu convivi bastante com a presidente Susana Kakuta, desde que ela foi presidente do Tecnosinos. Ela interagiu muito conosco em nossas missões internacionais. Tenho certeza que ela tem uma missão clara sobre a importância de um instrumento como o Badesul para o desenvolvimento do Estado. O mesmo se aplica a Pery Francisco Sperotto Coelho, vice-presidente do Badesul nas últimas três gestões, que também tem consciência clara da importância do banco no financiamento do agronegócio, por exemplo. Temos ainda na diretoria a Jeanette Lontra, que foi a nossa superintendente do setor público, que também tem compromisso com essa visão que reconhece a importância do crédito de longo prazo para o desenvolvimento. Todas essas pessoas têm esse compromisso.

Imagino que não passe pela cabeça do governo fazer isso porque seria um erro estratégico enorme abrir mão de um instrumento tão importante. O banco passa por uma dificuldade, mas tem todas as condições de superá-las e seguir sendo um instrumento fundamental para o Rio Grande do Sul voltar a crescer. Não podemos abrir mão do Badesul. O Brasil não tem financiamento de longo prazo estruturado fora dos bancos públicos. Não é o Bradesco ou o Itaú que farão esse tipo de financiamento. Entre as propostas que vem sendo apresentadas do que deveria ser feito para o crédito se tornar palatável para os investidores participarem de projetos de parcerias público-privadas, por exemplo, está o estímulo de financiamentos que aceitem como garantia a receita futura dos projetos, que foi exatamente o que nós fizemos no projeto da Wind Power. Os bancos públicos sabem fazer projetos de financiamento de longo prazo e os recebíveis são parte do que as empresas podem dar como garantia em projetos de montante elevado.

*Marco Weissheimer/Sul21
 
 
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