"É um grupo que não tem proteção de sindicato, de lei,
de nada. Ele não ganha nem o salário mínimo, está à margem da lei trabalhista.
Como a crise se espalhou de forma muito forte, são os maiores prejudicados.
Eles estão em posição de vulnerabilidade mesmo", explicou José Ronaldo de
Souza Júnior, coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura na Diretoria de
Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
Ao mesmo tempo, na faixa de renda mais alta, os 10% que
recebem os maiores salários tiveram um aumento real de 2,38% no período, de
acordo com o estudo, que tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua, apurada pelo IBGE. Segundo a pesquisa, a renda
média de todos os trabalhadores ocupados recuou 4,2% no segundo trimestre em
relação ao mesmo período de 2015.
Como consequência, o coeficiente de Gini dos rendimentos do
trabalho passou de 0,487 no segundo trimestre de 2015 para 0,490 no segundo
trimestre de 2016. Quanto mais perto de 0, mais próximo da igualdade; quanto
mais perto de 1, maior a desigualdade. Apesar do ligeiro aumento no último ano,
o resultado representa uma estabilidade, avaliou Souza Júnior.
"Mas como estamos falando do coeficiente de Gini apenas
dos rendimentos do trabalho, esse resultado pode não estar mostrando uma piora
na desigualdade, num momento em que muita gente perdeu o emprego. Esse número
não mostra toda a desigualdade que existe no País", ressaltou.
Desemprego
A queda no rendimento impulsionou um aumento na taxa de
desemprego como um todo no País. "A renda familiar cai, e mais pessoas da
família procuram emprego para compor a renda domiciliar", disse Souza
Júnior.
A maior variação na taxa de desemprego ocorreu entre a
população idosa, pessoas com mais de 59 anos. Nessa faixa etária, o aumento foi
de 132% entre o último trimestre de 2014 - último período antes da piora no
mercado de trabalho - e o segundo trimestre deste ano.
O estudo mostra ainda que a alta na taxa de desemprego
também foi maior em 2016 entre os idosos: a taxa de desocupação entre a
população com mais de 59 anos passou de 3,29% no primeiro trimestre para 4,75%
no segundo trimestre, alta de 44%.
"Esse foi o único grupo de idade em que não houve
redução na ocupação. Pelo contrário, até aumentou a população ocupada. Mas
aumentou mais o total de pessoas em busca de uma vaga. Eles estão procurando
emprego para compor a renda da família", disse o pesquisador. *Estadão |