Participaram da exposição do primeiro painel "Transformações
no Sistema Financeiro e seus impactos no Mundo do Trabalho”, os professores e
economistas, Luiz Gonzaga Belluzzo e Ladislau Dowbor.
A derrocada do Capitalismo
O economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo
fez uma breve análise do mercado financeiro mundial, a partir da década de
1980, com destaque para o crescimento da China, maior exportadora mundial de
manufaturas nos dias de hoje. Ao relatar os movimentos do capital financeiro
nos últimos 40 anos, assim como a realocação dos investimentos produtivos e as
mudanças decorrentes do fluxo de comércio, Belluzzo apontou os efeitos dessas
transformações na vida das pessoas e falou da derrocada do Capitalismo.
"Estamos assistindo a uma transformação muito profunda e a
questão que se coloca é: o que vai acontecer com a vida dos trabalhadores com a
derrocada de um sistema econômico que já acabou?”, explicou. "O Capitalismo
criou a possibilidade da abundância, mas sem que ela possa se realizar de fato
dentro das atuais condições; criou uma riqueza material enorme, mas com um
custo ecológico gigante e uma perda humana imensurável”, acrescentou.
Para o economista, diante disso, o que se discute no mundo
inteiro atualmente é a redução da jornada de trabalho, a criação de uma renda
básica de sobrevivência para as pessoas e a redefinição das relações sociais e
econômicas. "E não adianta recorrer a fórmulas velhas. É preciso pensar como
vai ser o Socialismo do século XXI. E terá que ser o Socialismo da liberdade,
da diversidade e da igualdade”, concluiu.
O Sistema Financeiro que herdamos
O professor da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo- PUC SP, Ladislau Dowbor, falou sobre os impactos do atual modelo do sistema
financeiro no Brasil.
Dowbor iniciou sua explanação citando o artigo 192 da
Constituição Federal que estabelece que o sistema financeiro nacional deve
estar "estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e
a servir aos interesses da coletividade”. No entanto, segundo o
professor, o que se vê é exatamente o contrário. "É um absurdo o sistema
financeiro que nós herdamos”, destaca.
Conforme ele, a economia brasileira está estagnando, porque
o sistema de intermediação financeira trava os quatros motores da economia: as
exportações, as demandas das famílias, investimentos empresariais e estatais.
Além de travar a demanda das famílias, os juros extorsivos
cobrados pelos bancos no Brasil impedem que os empresários privados recorram ao
crédito. "As taxas de juros são surrealistas. Enquanto na Europa os juros do
crediário chegam a 13% ao ano, no Brasil é de 105% ao ano. As famílias estão
pagando mais que o dobro quando compram a prazo”, avalia Dowbor.
O professor da PUC avalia que o Brasil não está
estruturalmente ruim e que nos últimos anos teve avanços significativos, mas o
país sofre com o ataque do sistema financeiro, que trava o sistema econômico.
"Não tem economia que possa funcionar com esses juros extorsivos”, destacou.
Dowbor criticou também o rentismo. "Os bancos não
investem. Hoje, o rentista se tornou o principal ‘chupador’ de riquezas do
país, aquele que trava a economia e coloca a culpa nas costas do governo. Desde
que o governo de Dilma Rousseff tentou reduzir esse dreno da economia,
reduzindo as taxas de juros, começou a guerra e de 2014 pra cá, ela não teve um
dia para governar".
Dowbor convocou a categoria bancária a se apropriar do
debate sobre como resgatar o sistema financeiro para que efetivamente funcione
como fomentador da economia.
Seminário antecede a 18ª Conferência Nacional dos Bancários
2016
A mesa do primeiro painel, coordenada pelo secretário-geral
da Contraf-CUT, Carlos de Souza, estava composta pela secretária do presidente
do Sindicato dos Bancários de Piauí, Arimateia Passos, da presidenta do
Sindicato dos Bancários de Sergipe, Ivania Pereira, da presidenta da Fetec/SC,
Terezinha Rondom e presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará e secretária
de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Rosalina Amorim.
O secretário-geral da Contraf-CUT, Carlos de Souza, disse
que o objetivo do Seminário é ampliar o debate sobre sistema financeiro tanto
no campo acadêmico quanto político. "Esse é um momento fundamental no
processo de qualificação dos debates e organização da categoria bancária”,
enfatizou.
O Seminário, que aconteceu no Hotel Holiday Inn - Parque
Anhembi, em São Paulo, antecede a 18ª Conferência Nacional dos Bancários 2016,
que acontecerá de 29 a 31 de julho.
No período da tarde acontece a exposição de outros dois
painéis: "Novas Ofensivas aos Direitos dos Trabalhadores” e "O Brasil que
Queremos”, com a presença do ex-presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva.
*Rede Nacional de Comunicação dos Bancários
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