Formação | 22/05/2015 | 15:05:57
“Bancos públicos auxiliam países a vencer crises econômicas”, afirma economista
Seminário pauta alternativas para construção do estado de bem estar social
 
 

O SindBancários promoveu manhã desta sexta-feira sexta-feira, 22/5, a continuação do seminário sobre a importância dos bancos públicos. O evento acontece na Casa dos Bancários e teve como painelista o economista e pesquisador do CNPQ, André Moreira Cunha.


O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, abriu a programação lembrando da importância de bancos públicos como BRDE, Caixa, Banco do Brasil, Badesul e Banrisul. Ele também destacou algumas reivindicações dos bancários, entre elas a democratização das instituições financeiras a partir da eleição de representantes nas diretorias e conselhos administrativos. "O Seminário será apresentado por dois especialistas e com certeza sairemos todos mais qualificados para estimular e fazer o debate sobre a importância dos bancos públicos com a população”, continuou Gimenis.

No início de suas explanações, o economista apresentou dados atuais sobre o setor financeiro . Segundo ele, mais de 40% dos ativos do sistema bancário brasileiro estão concentrados na mão dos bancos públicos, sendo que este percentual fica em torno dos 20% em países desenvolvidos e em desenvolvimento. "Nosso país é excepcional. Como a chegada do neoliberalismo foi tardia por aqui, os movimentos sociais puderam se organizar e resistir à ofensiva privatista nos anos 90”, analisou.

A partir de informações do Banco Central, André demonstrou que 77% do crédito imobiliário e 71% do crédito rural são oferecidos pelos bancos públicos. "Os privados só querem o filé mignon. Se olharmos para a Região Sul, 12% do crédito oferecido pelo Bradesco e 8% do Itaú se concentram aqui, contra 18% no BB e na Caixa. Se apenas as instituições privadas atuassem nessa região, com certeza teríamos mais dificuldades econômicas do que já temos”.

Conforme Cunha, há vantagens e desvantagens na atuação dos bancos públicos. Um dos pontos positivos é que eles garantem mais condições para os países saírem de crises financeiras, pois destinam crédito para que famílias e empresas possam se reestruturar, enquanto os privados fogem do risco.

Os bancos públicos ainda podem promover o investimento indireto de seu país, como acontece nos Estados Unidos, onde emprestam dinheiro para outros países comprarem produtos americanos. Também podem regular a concorrência, a exemplo da Caixa, que reduziu os juros e forçou as demais instituições a seguirem o mesmo patamar.

A grande crítica é que os bancos públicos precisam sobreviver, e muitas vezes o Estado deve socorrer essas instituições. "Entretanto, cabe lembrar que, em uma crise, os bancos privados se retraem e os públicos conseguem evitar que aconteça o pior”, complementou.

Brasil consumista

Para o economista, um dos grandes problemas que o Brasil terá que enfrentar foi criado nos últimos anos, quando se formaram muitos consumidores em vez de cidadãos. Em 2003, o Brasil era o 13º país que mais consumia eletrônicos e passou para o 3º lugar em 2013. O mesmo movimento se viu em outros bens, como roupas. "O problema é que o consumismo exacerba o individualismo. Quando esse consumidor não pode mais comprar, ele fica revoltado e bate panela”, conclui.

Após o painel, André Cunha respondeu a questionamentos do público sobre possíveis alternativas para enfrentamento à crise financeira e política.

Na avaliação do economista, o que gera emprego é investir em pessoas e na construção de um estado de bem estar social, que não seja desestruturado a cada troca de governo. Ele também questionou medidas econômicas de incentivo a determinados setores da economia, mas que a longo prazo não são sustentáveis, usando o exemplo negativo das montadoras de automóveis.

"Os movimentos sociais devem compreender que aquilo que está ruim hoje pode piorar e muito. É preciso criar cidadania e fortalecer a sociedade civil para que as políticas não se desmontem quando saem os governos. Precisamos reconstruir a escola e o espaço público, fazendo com que as pessoas se apropriem deste espaço. Por outro lado, não basta criar direitos no plano legal, mas sim trazê-los para o plano real”, afirmou.

* Imprensa/SindBancários com edição da Fetrafi-RS