O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, abriu a
programação lembrando da importância de bancos públicos como BRDE, Caixa, Banco
do Brasil, Badesul e Banrisul. Ele também destacou algumas reivindicações dos
bancários, entre elas a democratização das instituições financeiras a partir da
eleição de representantes nas diretorias e conselhos administrativos. "O
Seminário será apresentado por dois especialistas e com certeza sairemos todos
mais qualificados para estimular e fazer o debate sobre a importância dos
bancos públicos com a população”, continuou Gimenis.
No início de suas explanações, o economista apresentou dados
atuais sobre o setor financeiro . Segundo ele, mais de 40% dos ativos do
sistema bancário brasileiro estão concentrados na mão dos bancos públicos, sendo
que este percentual fica em torno dos 20% em países desenvolvidos e em desenvolvimento.
"Nosso país é excepcional. Como a chegada do neoliberalismo foi tardia por
aqui, os movimentos sociais puderam se organizar e resistir à ofensiva
privatista nos anos 90”, analisou.
A partir de informações do Banco Central, André demonstrou
que 77% do crédito imobiliário e 71% do crédito rural são oferecidos pelos
bancos públicos. "Os privados só querem o filé mignon. Se olharmos para a
Região Sul, 12% do crédito oferecido pelo Bradesco e 8% do Itaú se concentram
aqui, contra 18% no BB e na Caixa. Se apenas as instituições privadas atuassem
nessa região, com certeza teríamos mais dificuldades econômicas do que já
temos”.
Conforme Cunha, há vantagens e desvantagens na atuação dos
bancos públicos. Um dos pontos positivos é que eles garantem mais condições
para os países saírem de crises financeiras, pois destinam crédito para que
famílias e empresas possam se reestruturar, enquanto os privados fogem do
risco.
Os bancos públicos ainda podem promover o investimento
indireto de seu país, como acontece nos Estados Unidos, onde emprestam dinheiro
para outros países comprarem produtos americanos. Também podem regular a
concorrência, a exemplo da Caixa, que reduziu os juros e forçou as demais
instituições a seguirem o mesmo patamar.
A grande crítica é que os bancos públicos precisam sobreviver,
e muitas vezes o Estado deve socorrer essas instituições. "Entretanto, cabe
lembrar que, em uma crise, os bancos privados se retraem e os públicos
conseguem evitar que aconteça o pior”, complementou.
Brasil consumista
Para o economista, um dos grandes problemas que o Brasil
terá que enfrentar foi criado nos últimos anos, quando se formaram muitos
consumidores em vez de cidadãos. Em 2003, o Brasil era o 13º país que mais
consumia eletrônicos e passou para o 3º lugar em 2013. O mesmo movimento se viu
em outros bens, como roupas. "O problema é que o consumismo exacerba o
individualismo. Quando esse consumidor não pode mais comprar, ele fica
revoltado e bate panela”, conclui.
Após o painel, André Cunha respondeu a questionamentos do
público sobre possíveis alternativas para enfrentamento à crise financeira e política.
Na avaliação do economista, o que gera emprego é investir em
pessoas e na construção de um estado de bem estar social, que não seja
desestruturado a cada troca de governo. Ele também questionou medidas
econômicas de incentivo a determinados setores da economia, mas que a longo
prazo não são sustentáveis, usando o exemplo negativo das montadoras de automóveis.
"Os movimentos sociais devem compreender que aquilo que está
ruim hoje pode piorar e muito. É preciso criar cidadania e fortalecer a
sociedade civil para que as políticas não se desmontem quando saem os governos.
Precisamos reconstruir a escola e o espaço público, fazendo com que as pessoas
se apropriem deste espaço. Por outro lado, não basta criar direitos no plano
legal, mas sim trazê-los para o plano real”, afirmou.
* Imprensa/SindBancários com edição da Fetrafi-RS
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