Diretorias dos mais diversos matizes políticos já passaram pelo Banrisul desde a criação da remuneração baseada em "comissão + ADI" para funções que o banco entende que seja necessária uma jornada de oito horas. Durante o quadriênio 2011-2014 tivemos uma grande oportunidade de discutir e resolver essa situação de uma vez por todas, quando foi formada pelo Banrisul e movimento sindical a Comissão Paritária sobre o Plano de Carreira. Â Por mais de dois anos durante aquele período o departamento
de Recursos Humanos, sindicatos e Fetrafi-RS se reuniram duas vezes por semana
num grupo de trabalho dedicado exclusivamente a mapear cada função exercida e
organizar uma tabela de remuneração que reestruturaria a carreira dos
Banrisulenses, tão defasada, velha e problemática. Em 2013 os trabalhos desta
comissão culminaram na construção da Cartilha Horizonte, que reconstruía a
tabela salarial, definia critérios claros de promoção e ascensão na carreira e,
mais importante para a discussão da jornada, criava a função do Escriturário
Especialista, que substituiria a função do Analista.
O Escriturário Especialista era a solução ideal tanto para o
banco quanto para o quadro funcional, pois garantia uma remuneração superior a
do Escriturário para execução de tarefas consideradas de maior complexidade sem
mexer na jornada de seis horas - o que eliminaria de uma vez por todas as ações
trabalhistas individuais e coletivas que reivindicam o pagamento de horas-extra
para as funções que hoje são de oito horas.
Entre 2013 e 2014, com a cartilha em mãos, banrisulenses e
Comando Nacional pressionaram o banco pela implementação do novo Plano de
Carreira. Foram dias de luta, negociações, manifestações, dia do preto, dia do
vermelho e até mesmo greves motivadas não só pela Campanha Salarial, mas também
pela indignação dos banrisulenses que não entendiam porque o banco não queria
implementar o novo quadro.
Em 2014, numa campanha salarial difícil e poluída pela
polarização de uma eleição conturbada, a diretoria apresentou uma versão
própria de plano de carreira que, ainda que fosse inferior à proposta
apresentada pelo movimento sindical, resolvia a vida profissional de todos. A
esta altura já estávamos numa greve prolongada e muitos interesses eleitoreiros
se confundiam com o que era realmente importante para os Banrisulenses naquele
momento.
Em tom de ultimato - e aparentemente torcendo por uma
negativa da categoria -, a diretoria do banco entregou sua proposta de Plano de
Carreira e deu um prazo de menos de 24 horas para que os mais de 12.000
Banrisulenses à época analisassem e decidissem em assembleias por todo o país
se a aceitavam ou não, encerrando a greve.
Deu no que deu: muito tumulto, assembleias em que os
bancários nem queriam ouvir a proposta, uma oposição sindical radicalizada pelo
processo eleitoral e um Plano de Carreira jogado pelo ralo. Após as eleições
para governador e a transição para uma nova diretoria, o banco fechou as portas
para o debate sobre a nossa carreira e a nova diretoria se encastelou em seu
gabinete por mais de quatro anos, sem sequer receber o movimento.
Pois bem. O último recurso do movimento sindical foi a
Justiça do Trabalho, para garantir o reconhecimento do direito dos bancários à
jornada de seis horas. É dever constitucional de qualquer sindicato representar
seus associados na defesa de seus direitos e assim foi feito. Agora o Banrisul
precisa lidar com ações coletivas que visam o reconhecimento da jornada de seis
horas para os Analistas e outros cargos comissionados, que já começam a receber
sentenças favoráveis.
Mas ainda há tempo. É possível estancar esse passivo para o
futuro, reorganizar a carreira e assegurar o direito dos banrisulenses à
jornada de seis horas. A solução já existe há anos e está engavetada no RH, se
chama Plano de Carreira. A bola está com a diretoria do banco.
E aí, Banrisul, vamos negociar?
*Diretor da Fetrafi-RS |