A organização controlada por Hebe foi acusada de desviar
fundos, destinados à construção de casas populares e ela foi convocada para
depor, mas faltou à audiência para participar da marcha que realiza todas as
semanas, há quarenta anos, para cobrar a punição dos crimes da ditadura. A
ordem de prisão contra Hebe teve repercussão internacional porque, aos 87 anos,
ela é vista como uma mulher que teve a coragem de desafiar a ditadura.
Na próxima semana, a organização liderada por ela comemora
duas mil voltas ao redor da Praça de Maio. Apesar de a Argentina viver em
democracia há 33 anos, as Mães (a maioria octogenárias) mantiveram o ritual,
inaugurado no regime militar. Toda quinta-feira, elas se reúnem as 15h 30m em
frente à Casa Rosada (o palácio presidencial) e andam em círculos.
Elas dizem que vão continuar marchando, até que a Justiça
castigue todos os criminosos da ditadura e para que as novas gerações não
cometam os erros do passado. Unidas durante a ditadura, as Mães da Praça de
Maio se dividiram na democracia. Um grupo, a Linha Fundadora, manteve a
independência e os princípios da organização, de defender os Direitos Humanos.
O outro, liderado por Hebe, passou a ter uma atuação mais política e se alinhou
ao governo da ex-presidenta Cristina Kirchner, que financiou o projeto Sueños
Compartidos (Sonhos Compartilhados), para construir casas populares.
Hebe é acusada de não repassar o dinheiro do Ministério do
Trabalho, entre 2008 e 2011, para os operários que ergueram as casas. Ela
atribuiu o desfalque (equivalente a R$ 43 milhões) a um grupo encarregado de
administrar as obras. E disse, repetidas vezes, que não entendia de construção.
Para a Justiça argentina, Hebe de Bonafini é culpada de desacato.
Mas ao investigar novos escândalos de corrupção, ligados ao
governo de Cristina Kirchner, o juiz federal Marcelo Martinez di Giorgi
convocou Hebe de Bonafini para depor. Ela se negou a comparecer à audiência e,
quando a Justiça ordenou a sua detenção, ela driblou a polícia, subiu numa van
e, amparada por centenas de simpatizantes, foi até a Praça de Maio, para
comandar a marcha que realiza toda quinta-feira. Na praça, ela fez um discurso
contra o presidente Mauricio Macri.
Macri assumiu em dezembro passado, após doze anos de
governos kirchneristas(Nestor Kirchner foi presidente de 2003 a 2007 e
sua viúva e sucessora, Cristina Kirchner, foi presidenta de 2007 a 2015). O
atual presidente prometeu unir os argentinos, combater a corrupção e reduzir a
inflação anual de dois dígitos, ajustando os preços (que vinham sendo
congelados e subsidiados desde a crise de 2001).
Macri aposta na transparência para atrair investimentos e
recuperar a economia argentina, estancada há três anos. Mas os ajustes, além de
duplicar ou triplicar os preços, ainda não produziram os resultados esperados.
Os argentinos gastam menos, o que resultou num aumento do desemprego.
A ordem de prisão contra Hebe, que coincidiu com um protesto
contra os aumentos das tarifas dos serviços públicos, está sendo usada pela
oposição a favor do governo de Cristina Kirchner. A ex-presidenta também está
sendo investigada por enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e má
administração. *Agência Brasil |