Financeirização significa que o dinheiro invade tudo. Que o
capital especulativo é o hegemônico. Os bancos já não emprestam para
investimentos produtivos ou para que as pessoas comprem o que necessitam ou
para que se façam pesquisas. Não, os bancos vivem da compra e venda de papéis,
do endividamento de governos, de empresas, de pessoas. Quando se anunciam, com
todos os seus zeros, no final de cada dia, quanto movimentou a bolsa de
valores, não se produziu nem um bem, nem um emprego.
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O capital financeiro nasceu para apoiar a agricultura –
adiantar capital para receber com juros depois da colheita. Hoje esse capital
foi promovido a "setor da economia”, um fim em si mesmo.
Quando começou a crise atual no centro do capitalismo, em
2008, Obama bradou que havia que salvar aos bancos, senão seu teto cairia na
cabeça de todos. Os bancos estão muito bem, mas quebraram os países.
Quando se esgotou o ciclo anterior do capitalismo, o
diagnóstico triunfante dizia que a economia havia deixado de crescer porque
havia excessivas travas, demasiadas regulamentações. Haveria que terminar com
elas e, segundo Ronald Reagan (presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989), a
economia voltaria a crescer e todos ganhariam de novo.
As regulamentações foram abolidas – programa central do neoliberalismo
–, mas não foi retomado o crescimento. Porque, como dizia Marx, o capital não
está feito par produzir, mas para acumular. Sem travas, o capital se transferiu
em quantidades gigantescas para o setor financeiro, que é onde ele ganha mais,
paga menos impostos e tem liquidez total. Não é que haja capitalistas
produtivos e especulativos. Todo grande grupo econômico tem um banco ou um
centro de investimentos, por onde ganha mais do que nas suas atividades
originais.
Livre das travas, o capital se concentrou em sua forma
financeira, como capital especulativo, que só vende e compra papéis, que vive
do endividamento, que se alimenta das dívidas e alimenta as dívidas. Mais de
90% dos movimentos econômicos que se fazem no mundo atualmente são de venda e compra
de papéis.
Quando começou a crise atual no centro do capitalismo, em
2008, Obama bradou que havia que salvar aos bancos, senão seu teto cairia na
cabeça de todos. Os bancos foram salvos, estão muito bem, mas os que quebraram
em seguida foram os países – Grécia, Portugal, Espanha, Itália.
Em um mundo dominado dessa forma pelo dinheiro, não cabe a
política, como espaço de decisão das pessoas sobre os destinos da sociedade. As
pessoas podem se pronunciar, mas se se pronunciam por outra lógica que não a dos
bancos, se frustram, porque as redes de poder não deixam espaço para outra
lógica que não seja a da especulação financeira.
Fazer política é, assim, estar na contramão da lógica
capitalista contemporânea, a lógica neoliberal, que trata de impor os interesses
do capital financeiro. Quem enfrente essa lógica, é devorado por ela. Fazer
política é construir alternativas que privilegiem as políticas sociais e não os
ajustes fiscais, os processos de integração regional e não os tratados de livre
comércio, que recuperem a capacidade de ação e de fazer política dos Estados e
dos governos.
Atuar nessa direção é estar condenado pelos organismos
financeiros internacionais, pela grande mídia, pelos partidos tradicionais. Mas
é a única forma de resgatar o direitos das pessoas de decidir sobre o seu
destino, contra o destino definido pelos bancos e pelo poder do dinheiro. *Emir Sader
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