Não é a primeira vez
que o Rio Grande do Sul depara com uma crise econômica. As medidas adotadas
pelo atual governo também não nos são estranhas, todas elas já foram testadas e
os resultados foram desastrosos. Cortar gastos em áreas prioritárias como
saúde, educação e segurança; penalizar os servidores do Estado; privatizar o
que restou do patrimônio público; eximir-se de aprofundar as alternativas
escutando os diferentes sujeitos políticos e econômicos; permitir que a
dinâmica do mercado determine a política econômica e transferir o ônus da crise
para o conjunto da sociedade, sobretudo, para aqueles que vivem do trabalho,
seguramente nos conduzirá ao precipício.
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O Rio Grande do Sul é um dos entes da federação mais bem
posicionados. Dispomos de uma matriz produtiva que progressivamente se
diversifica e amplia suas bases em áreas importantes. Temos cadeias produtivas
em vias de consolidação e com grande capacidade de agregar tecnologia. A nossa
agropecuária é pujante. Há uma rede de universidades, públicas e privadas,
ansiosas por fazer parte de um processo pactuado de desenvolvimento. Temos
lideranças de diferentes matrizes políticas com influência no cenário nacional.
Somos uma região que ainda não aprendeu a fazer uso estratégico da sua posição
geográfica fronteiriça. Temos instituições com forte tradição democrática.
Finalmente, e o mais importante, dispomos de um povo aguerrido e de uma classe
trabalhadora com razoável grau de escolaridade e profissionalização. As saídas
para o Rio Grande do Sul não virão apenas de consultorias especializadas, de
técnicos fechados em quatro paredes, nem de medidas unilaterais que penalizam a
sociedade.
A principal porta de saída para a crise do Estado é fortalecer a democracia. É
muito medíocre uma gestão balizada pelas contas a pagar. Devemos focar nas
nossas potencialidades e ativos para obter uma expansão financeira, e não no
superdimensionamento das debilidades com a intenção de propagandear saídas indigestas.
Cada vez mais, fica claro que a crise que assola os povos de boa parte do mundo
não é de produção de riqueza, mas da sua distribuição. Isso vale para o nosso
Rio Grande. Somos um Estado rico, todavia os níveis de concentração de riqueza
e de lucratividade são cada vez mais insustentáveis. Não são os salários dos
trabalhadores, nem as nossas fragilidades relacionadas com infraestrutura e nem
as demandas sociais que temos que travam o nosso desenvolvimento. Pelo
contrário, olhadas sob outro prisma, serviriam de alavanca para o crescimento
econômico. A concentração de riqueza e a supremacia do capital financeiro são o
que inviabilizam.
O Estado democrático é o único ator com capacidade de conduzir para uma saída
duradoura e sustentável. É imprescindível combater a renúncia fiscal que premia
os endinheirados. Precisamos implantar um sistema tributário que possibilite
maior justiça fiscal. Hoje, os trabalhadores são penalizados com impostos
naquilo que consomem e nos salários, isso é uma aberração. Enquanto isso, os
empresários são beneficiados com desonerações e baixa tributação. Em termos
tributários, somos um dos países mais injustos do mundo.
Nenhuma região ou país se desenvolveu movido apenas por visões de curto prazo.
Nesse sentido, temos que implementar efetivos diálogos sociais capazes de
sobreviver às mudanças políticas do nosso calendário eleitoral. O nosso atraso
econômico, se comparado com outros países, também se deve à mentalidade
colonizada das nossas elites, que se acostumaram à subserviência, ficando no
banco de reservas do desenvolvimento econômico. Por isso, não temos empresas
que investem em tecnologia, que se projetam internacionalmente.
O caminho do desenvolvimento também é prerrogativa de experiências
empreendedoras organizadas localmente, isso significa que os municípios e as
forças vivas regionais precisam se mobilizar em torno de uma agenda positiva de
desenvolvimento. O Rio Grande do Sul tem saída, ouvindo mais o seu povo e
mudando o receituário do ajuste fiscal. *Claudir Nespolo - Presidente da CUT/RS
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