Números ruins confirmam algumas máximas sindicais
Um dos gráficos mostra que o resultado das negociações é o
pior desde 2003. "Isso é reflexo da volta às medidas neoliberais que
predominaram até 2002”, analisa João Cayres, secretário-geral da CUT-SP. Ou
seja, os números da pesquisa Dieese indicam que corte de investimentos e
restrição fiscal sufocam a economia, comprovando que o Estado tem de
desempenhar o papel de indutor do desenvolvimento.
Outro dado que chama a atenção é que o único setor de
atividade em que todas as negociações salariais ficaram abaixo da inflação é o
de processamento de dados, onde predomina a terceirização. "É de fato um setor
altamente terceirizado”, concorda José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador
de Relações Sindicais do Dieese. "Além disso, é um setor onde há muitas
empresas pequenas”.
O movimento sindical tem insistido, ao longo dos últimos
anos, que os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados têm salários, em
média, 27% inferiores aos trabalhadores diretos, segundo estudos do próprio
Dieese. A maioria do atual Congresso Nacional e o Temer querem a terceirização
sem limites.
Negociado sobre legislado?
O balanço apresentado hoje também mostra que a negociação
por categoria – a chamada convenção coletiva – obtém salários melhores que as
negociações diretas com empresas – os chamados acordos coletivos.
Portanto, confirma-se a tese de que sindicatos fortes que
representem todas as profissões que compõem determinado ramo de atividade
conseguem resultados mais efetivos. A CUT planeja ampliar essa estratégia,
promovendo campanhas unificadas entre diferentes categorias. "Isso serve de
estímulo para que a CUT invista cada vez mais nessa ação”, avalia Cayres.
Outra interpretação possível para esses dados aponta para o
perigo que a proposta do "negociado sobre o legislado”, defendida por Temer,
representa para os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo essa proposta,
negociações diretas com os patrões teriam mais força do que a legislação
trabalhista.
Números
O Dieese analisou 304 campanhas salariais. No primeiro
semestre de 2016, apenas 24% obtiveram aumentos acima da inflação. 37%
empataram com a inflação e 39% perderam para a inflação do período anterior.
Na média de todas as campanhas, o índice ficou 0,50% abaixo
da inflação medida pelo INPC-IBGE.
Das convenções coletivas – campanhas por setor - , 25% delas
tiveram aumento real, contra 15,4% dos acordos coletivos – por empresa. A
imensa maioria das campanhas salariais analisadas pelo Dieese é fechada por
convenção coletiva (291 contra 13).
Lava Jato
Cayres alerta que há um fator importante para a queda do
emprego e o enfraquecimento das campanhas salariais que vem sendo ignorado pela
mídia corporativa. "Mais do que o ajuste fiscal, que nem chegou a ser
implementado, a forma como é conduzida a Operação Lava Jato está quebrando
empreiteiras, paralisando o setor de construção, gás e petróleo e isso
contamina toda a economia”. *Isaías Dalle - CUT Nacional |