Essa realidade, entretanto, ao contrário do que avaliam
alguns, de maneira alguma significa o arrefecimento ou o declínio da luta
contra o golpe e em defesa da democracia.
A resistência democrática não se manifesta somente em eventos multitudinários.
Já está incorporada ao cotidiano e à rotina militante não só das novas
vanguardas, das novas lideranças e dos novos coletivos que emergiram neste
processo – está presente, também, no senso comum.
A resistência democrática sai pelos poros; está se entranhando na vida das
pessoas. É, por isso, mais potente, mais intensa, mais profunda e mais
contundente. A denúncia do golpe é implacável; mobiliza a consciência
democrática nacional e consegue sensibilizar o mundo civilizado.
Esse é o fator inesperado que surpreendeu o planejamento
golpista. Os golpistas se iludiram com a crença de que no golpe de 2016 a Globo
conseguiria entorpecer as consciências como no golpe de 1964. Equivocaram-se ao
menosprezar a força desta insurgência que reage com radicalidade à ruptura da
Constituição e da democracia.
A crítica política está disseminada nas redes sociais, nas ruas, nos lares, nas
fábricas, nas escolas, nas universidades, nas repartições públicas, nas
esquinas, nos bares, nos aeroportos, nas praias, nos poemas; enfim, no
cotidiano.
A denúncia do golpe e dos golpistas é onipresente: aparece no protesto de
cineastas em Cannes, está no humor ácido nas redes sociais, no escracho, no
constrangimento, na exposição ao ridículo, no xingamento, na ocupação de
escolas, na música, nas artes, na proclamação de liberdades, no boicote de
governos estrangeiros ao governo usurpador, na entrevista desastrosa de FHC à
TVAl Jazeeraetc.
A vitalidade democrática corrói a legitimidade e a aceitação do governo
usurpador mas, sobretudo, torna hegemônica a narrativa histórica sobre o caráter
golpista doimpeachmentfraudulento da Presidente Dilma: nos próximos
100, 200 anos, a história reportará os acontecimentos de 2016 como de fato são:
um golpe da plutocracia contra os pobres.
A vida não está nada fácil para os golpistas. Até mesmo aqueles financiados
pela FIESP para comparecer na Avenida Paulista hoje estão escondidos,
envergonhados com a corrupção estrutural da turba golpista.
Há uma politização intensa do debate público, e esse fenômeno os golpistas não
conseguem conter. O golpe liberou uma impressionante energia rebelde, que se
radicaliza e se espraia. Ninguém conseguirá deter essa insurgência libertária;
nem a repressão brutal conseguirá derrotar, dominar ou enquadrar esta rebeldia.
O governo usurpador enfrenta dificuldades crescentes para impor a agenda que
faz o Brasil regredir ao século 18; ao tempo da escravidão, da oligarquia e do
obscurantismo.
Com a impossibilidade de abafarem a Lava Jato, e com o agravamento dos efeitos
do caos econômico que eles próprios provocaram para desestabilizar e derrubar
Dilma, a imagem do governo usurpador e do golpe é cada vez mais associada à
corrupção, ao desemprego, à supressão dos direitos e das conquistas populares e
à entrega do país aos bancos e aos governos estrangeiros.
A resistência democrática aprofunda a deslegitimação do governo usurpador, que
já está irremediavelmente condenado perante a História.
*Jeferson Miola para Carta Maior
|