Salários achatados, jornadas prolongadas, clima ainda mais
repressivo dentro das empresas, condições de trabalho ainda mais deterioradas.
Assim é que se produziu o novo ciclo expansivo da economia, baseado na
exportação e no consumo de produtos de luxo, enquanto o mercado de consumo
popular era achatado ainda mais.
No presente golpe os trabalhadores também são vítimas
privilegiadas. Medidas de distinta ordem que atingem o salário mínimo, ação
consciente de usar o desemprego para pressionar as reivindicações salariais e
como mecanismo de suposto controle da inflação, definição de novas regras da
aposentadoria – tudo aponta na direção do barateamento da força de trabalho e
na deterioração das condições de negociação dos sindicatos.
Um dos objetivos centrais do golpe é restabelecer, segundo
seus critérios, as condições para a retomada de um ciclo de investimento na
economia e a retomada do seu crescimento. O poder central de Henrique Meirelles
no governo golpista serve para dar garantias ao empresariado de que seus
interesses serão zelados antes do que qualquer outro.
No entanto, o discurso da herança pesada, dos duros
sacrifícios, do aumento de impostos, dos prazos longos – se fala de 2018 – para
recuperação econômica, já revelam que até lá primará o ajuste fiscal. E a
distribuição de cargos chaves demonstra quais os que setores do empresariado
são especialmente contemplados e quais ficam relegados a posições secundárias.
Os bancos emplacam lugares estratégicos, com o Meirelles e o
seu presidente do Banco Central, diretor do Itaú. O agronegócio tem um dos seus
principais representantes – Blairo Maggi – que concentra toda a política
agrária, terminando com o Ministério de Desenvolvimento Agrário, que era um contraponto
progressista e agora desaparece.
Enquanto isso, os industriais ficam particularmente
alijados. No troca-troca de ministérios, o pastor que foi cogitado para Ciência
e Tecnologia, mas foi vetado por ser criacionista, acabou ficando com Indústria
e Comércio! Ele mesmo confessou que não tem muita afinidade com o tema, que seu
vinculo com a indústria foi ter sido contador de uma no começo da sua carreira
profissional. Não poderia haver maior subestimação da indústria, confirmando a
fraqueza da Fiesp como suposta representante desse setor. Nem a nomeação do
ministro da Indústria e Comércio ficou com o Skaf.
O governo golpista do Temer é hegemonizado pelo capital
financeiro e pelo agronegócio. Basta isso para confirmar que será um governo do
ajuste e da soja, do corte de recursos para políticas sociais e da exportação.
Em que os investimentos produtivos e a geração de empregos serão
secundarizados.
Já se anuncia que o duro ajuste só terá resultados em 2018.
Até lá como viverá o pais? Com profunda e prolongada recessão, aumento
exponencial do desemprego – Meirelles anuncia 14% -, com perda dos direitos
sociais para uma grande maioria, com resistência e convulsão social. Num quadro
como esse, o governo só pode se manter, ou tentar se manter, pela repressão,
que será outro componente essencial do cenário político.
A CUT demonstra força impressionante nas manifestações,
pode-se dizer que tem sido a organização sempre presente, atuante,
mobilizadora. O movimento sindical tem um novo grande desafio pela frente e as
centrais sindicais tem responsabilidades muito grandes em conduzir os
trabalhadores a uma dura luta de resistência, que seja um obstáculo fundamental
a um governo que aponta para a super exploração dos trabalhadores como
instrumento de imposição de uma virada conservadora no país. *Emir Sader para RBA
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